sábado, 22 de junho de 2013

ADV - Capítulo 13

Pov. Peg

Atordoamento. Desespero. Angústia. Raiva. Desolação.



Peg não sabia dizer quais sentimentos permeavam sua alma naquele momento. Uma gama sem fim de sensações varriam seu âmago e deixavam-na sem direção. Queria gritar, acusar, brigar, mesmo sabendo que nada disso adiantaria naquele momento. Eram sentimentos negativos, humanamente negativos e opostos a essência dela – uma alma. Mas era exatamente o que ela queria fazer.

Os humanos que ela chamava de amigos estavam sendo irracionais e contra a falta de razão. A única arma disponível era a calma e a ponderação. Precisava fazer algo, defender os seus irmãos de espécie e promover a paz. Isso provavelmente lhe custaria amizades. Ela esperava que não precisasse perder ninguém. Não suportaria ficar sem nenhum deles, mesmo que naquele momento estivessem tão distantes dela.

Mesmo depois de Melanie ter ido e a deixado sozinha no quarto, remoendo ideias, ela ainda estava sem uma que realmente valesse a pena. Só havia ficado assim, dividida, uma vez, quando esteve no corpo da Mel. Nessa época era fácil entender a motivação dos humanos, eles ainda pensavam nela como um ser ruim.

Mas isso havia mudado na cabeça deles, ou ela pensava que mudara. Os humanos daquelas cavernas já deveriam saber que a espécie dela nunca mataria alguém, sempre mantinham os hospedeiros vivos e zelavam por sua saúde, fazendo com que a expectativa de vida de cada corpo superasse a média para a espécie, preservavam os costumes, cultura e estilo de vida da espécie dominada.

A única coisa que eles haviam mudado na Terra tinha sido o ímpeto violento da raça humana. Tanto, que não acontecera um único crime depois deles terem tomado o planeta. Os humanos faziam mal a si e aos próximos e com a chegada das Almas, toda a crueldade humana fora suprimida.

Ela entendia que nem todos os humanos eram iguais, que eles eram capazes de gestos altruístas e de fazer o bem. Entendia o ponto de vista deles sobre as almas. Para eles, o humano morria sempre que uma alma era inserida. O que ela não entendia era a frieza de sentimentos em relação a ela e outras almas aculturadas que eles haviam cativado e que os havia ajudado.

Como eles, Ian, eram capazes de pensar em exterminá-los?

Precisava fazer algo que forçasse todos a chegarem a um consenso que satisfizesse o interesse das almas também. Sua natureza pacífica não concebia o extermínio de uma espécie, ainda mais da sua.

Ela acreditava em meio termo, que eles poderiam talvez coexistir em paz. Ela teria que tentar, mas por onde começar?

O líder máximo ali era Jeb e talvez com ele conseguisse alguma coisa. Tio Jeb fora o primeiro humano a ajudá-la e tornara-se seu grande amigo. Se recorresse a ele, provavelmente a velha raposa lhe sugerisse expor seu caso ao conselho.

Ela teria que passar por uma votação. Teria que ter forças para enfrentar todos mais uma vez, agora em favor de todas as almas do mundo. Não queria ferir seus humanos, mas também não admitiria ferir sua família, as almas.

Seria mais fácil se tivesse Ian ali. Por algum motivo ele e Kyle sumiam com frequência. Aliás, Sunny também parecia ausentar-se mais do que antes. Talvez fosse melhor assim, tentar resolver as coisas sem a presença do humano que ela mais amava.

Tio Jeb estaria agora monitorando uma das plantações. A maioria dos humanos estaria lá e ela ainda não queria um confronto. Sorriu sozinha ao pensar que ultimamente o consultório de Doc era usado mais como ponto de encontro do que qualquer coisa e era para lá que iria.

Pediria a Doc para chamar tio Jeb e assim começaria sua batalha em favor da vida; não importando a espécie.

A caminho do consultório Peg pensava em argumentos válidos para convencer todos. Só conseguia pensar em um, o perigo de se fazer extrações aleatórias. Nem todo mundo voltava. Às vezes o hospedeiro ficava em estado vegetativo e isso era pior do que a morte na opinião dela.

Candy com sua experiência como curandeira poderia ajudá-la com esse argumento.

Doc estava sozinho, em sua mesa com a cabeça apoiada nas mãos, parecia triste. Quando ela entrou, o médico imediatamente levantou a cabeça e a encarou.

— Estava pensando quanto tempo levaria para você vir até aqui. Considerando o que Sharon me disse, acho que agora você já sabe de tudo.

Ela sabia. Como sabia também que ele era um dos poucos contra aquela ideia maluca. Sendo médico, alguém que jurou curar e salvar, para ele era inconcebível a ideia de matar. Tinha pena do pobre Doc.

— Então, vamos pular a parte em que tento convencer você. Pode, por favor, chamar tio Jeb?

— Jeb vai colocar a questão em votação. Tem certeza que você quer um conselho? Sharon saiu daqui a pouco, estava disposta a colocar o maior número de pessoas contra você.

— Considerando tudo, estou motivada a tentar. Minha vida depende disso.

— Ninguém a machucaria. Ian se voltaria contra qualquer um que lhe ferisse.

— Tenho motivos para querer defender-me e os meus. Em uma época não muito distante defendi vocês.

Doc acenou com a cabeça. Ele entendia.

— Vai dar trabalho e você vai precisar de muitos argumentos, além de um grande poder de persuasão.

— Acho que consigo.

— Por que simplesmente não procura Ian? Tenho certeza que ele vai bolar algum plano de proteção para você caso algo dê errado.

Algo dê errado? Era óbvio que Sharon não estava somente fazendo intrigas por aí.

— Vai chamar Jeb ou não?

— Certo, mas lembre-se que eu sou seu amigo e defenderei você se preciso.

— Nunca esquecerei disso, Eustace.

Ele saiu calmo e lento, quase que fazendo o possível para demorar-se em achar o tio de Melanie. Peg pensou que talvez ele fizesse isso com o intuito de fazê-la pensar e mudar de ideia quanto ao conselho.

Jeb demorou um pouco e foi ao consultório sozinho. Doc cedera seu refúgio para ela e o velho conversarem.

— Eu já sabia que me procuraria, menina. Soube no dia da votação.

— O que esperavam que eu fizesse? Não posso cruzar os braços e ficar parada a mercê dos acontecimentos.

— Antes de qualquer pedido seu, quero dizer que você, Candy, Cal e Sunny estarão seguros.

Somente os quatro. O resto deles morreria e eles calmamente deveriam aceitar. Na visão deles ela deveria aceitar, como no dia em que vira os corpos de seus irmãos mutilados e mortos, fingir estar tudo bem e viver em harmonia com todos quando sobrassem apenas os três.

Aquilo não era segurança, ficar passivo com o salvo conduto para eles não era estar seguro. Era ser condescendente, traidor. Nesse ponto ela concordava com Sharon, traíra seus irmãos e teria sempre isso em sua consciência.

— Quero que convoque um conselho para que eu lute a meu favor e de meus irmãos.

— Peregrina. Você não viu de perto o desespero humano pela sobrevivência. Eles estão convictos em relação ao plano deles e nada os fará mudar de ideia. Você está atirando-se a lobos e eu quero ser um velho maldito se deixar isso acontecer.

Seu querido amigo apertava o rifle como que para enfatizar a força de sua ideia.

— Por favor, tio Jeb.

— Certo! Farei isso, mas antes quero que você procure pessoas a seu favor, faça exatamente o contrário de Sharon.

— Não se preocupe, tio Jeb. Sei exatamente que argumentos usar. Não preciso usar de artimanhas.

Ele somente balançou a cabeça e saiu. Em questão de minutos Doc entrou e isso a fez pensar que ele esteve o tempo todo no corredor ouvindo a conversa. Peg compadeceu-se com a dor no solhos dele, Sharon era mesmo uma pessoa difícil de lidar.

— Não fique assim, Doc. Eu realmente não me importo com o que ela fala. Sei que ela tem motivos.

— Tome cuidado. Sharon sabe ser má quando quer.

Uma lágrima balançou nos cílios dele e ele foi para a mesa.

Peg aproveitou a deixa e saiu dali. Queria deixar Doc chorar sozinho se isso lhe fazia bem. Se a prima de Melanie usasse sua energia no relacionamento deles com certeza seriam o casal mais feliz dali.

Foi para a cozinha com a intenção de conseguir algo para fazer, Maggie estava ali e com a hostilidade dela as outras mulheres dispensaram sua ajuda. Sabia que não conseguiria nada nas plantações ou em outro lugar.

Não via Ian desde a noite passada e já estava com saudades. Ele e o irmão pareciam fazer parte de uma sociedade secreta, viviam sumidos e cheios de segredos. Pior era terem recrutado Sunny. Queria conversar com alguém que visse as coisas pelo mesmo prisma que ela.

Jeb já deveria ter falado com alguns sobre o conselho, pois a medida que caminhava por corredores e salas comuns ela ouvia cochichos, vez ou outra recebia olhares cheios de comiseração ou raiva.

Ao final do dia Ian apareceu do nada ao seu lado no quarto. Palavras não precisavam ser ditas, bastava a presença um do outro. Ian ficou quieto e a única coisa que fez foi abraçá-la e mantê-la apertada por vários minutos.

Ali naqueles braços ela sentia-se segura e conseguia imaginar um saldo positivo para noite. Queria voltar no tempo, para dias em que nada daquilo acontecia e que podia ficar feliz fazendo amor com Ian no quarto.

A sala de jogos estava lotada como já era de se esperar. Mesmo as crianças receberam permissão para participar do conselho. Para alguns aquela noite poderia ser a última de Peg nas cavernas. Sharon tinha passado o dia dizendo a todos que se não concordava com as coisas que fosse embora.

Quando tio Jeb levantou-se e foi para o centro todos ficaram quietos.

Peg prendeu a respiração. Aquela era a hora de sair do abraço de Ian e lutar.

Jeb começou explicando, agora para todos ao mesmo tempo, o que seria discutido ali.

— Como todos sabem algumas decisões a respeito das almas foram tomadas. Há alguns dias, nessa mesma sala, combinamos de manter Peg ignorante a cerca de certas ações que serão tomadas, mas alguém não conseguiu calar a boca e deu com a língua nos dentes.

— Não fiz nada de mais, tio Jeb. Afinal de contas uma hora a parasita iria saber.

— O que vamos discutir aqui será o ponto de vista de Peg. — Jeb parou e respirou fundo, os olhares ali era críticos e pouco amigáveis. Na verdade para eles estava decidido e não queriam conversar.

— Está pronta para falar menina?

Peg apenas acenou que sim e tomou seu lugar. Quem visse de fora não acreditaria que alguém pequeno e frágil como ela pudesse mudar a mente de pessoas dispostas a lutarem pelos próprios interesses.

Quando começou a falar viu em canto Ian, Kyle, Sunny e Cal cochichando, mas ignorou.

— Eu sei de tudo. Cada ponto do plano de vocês, cada passo que pretendem dar e tenho que admitir é um plano muito bom. Eliminar o inimigo sem que ele ao menos possa lutar é realmente excelente.

— Considerando que estamos imitando vocês, querida.

— Pena que tem sempre tem um “porém” não é Maggie.

Um homem, alguém com que Peg não relacionava-se muito, levantou nervoso e gesticulando muito.

— Não pode deixar ela fazer isso, Jeb. Já estamos com tudo pronto e ela vai enfiar coisas na cabeça dos indecisos inventando pontos negativos.

— Não estou inventando nada. Vocês por acaso pararam para considerar elementos surpresas?

Nate estava ali, aliás ele e vários de sua célula, Peg só percebeu naquele momento que eles deviam estar bem perto de começar a colocar o plano em prática.

— Peg, posso garantir que cada aspecto foi discutido com cuidado, não há nada que possa dar errado.

— Certo, Nate. E o que você espera fazer com os humanos que, depois de extraídas as almas, não voltarem.

— Nate nem precisa responder. Ninguém precisa falar com você e nem explicar nada. Basta ver que Jodi demorou a voltar, mas está aqui e bem.

— Jodi foi um caso a parte. Nem todos voltam e na maioria das vezes vivem em estado vegetativo quando experiências como esta são feitas sem a devida consideração.

— Mentira! — Vários deles gritaram ao mesmo tempo.

— Vocês não podem simplesmente fazer as extrações, matar um indivíduo e deixar o outro em coma. É perigoso demais.

— Está falando isso somente para que ninguém mate os seus.

— Nós nunca matamos ninguém.

Risos de escárnio ecoaram na sala. Pessoas falando ao mesmo tempo em que humanos foram mortos por causa das almas. Peg perdia a esperança rapidamente. Então Candy surgiu a frente da multidão.

— Peg está certa em parte. Vi isso acontecer.

— Candy já está influenciada. — Sharon também veio à frente.

— Quem mais agora? Como pode ser saber? Fazem experiências conosco?

Todos olharam para Peg.

— Não fazemos. Alguns humanos foram como Melanie. Mantiveram a consciência e alguns até mesmo tentaram tirar as almas com as próprias mãos. Nesse caso as almas são extraídas e colocadas em outro corpo e o humano é cuidado. Poucos humanos tiveram as consciências realmente de volta, mesmo lutando como a Mel. Não sabemos o porque, mas tomar o corpo de volta é extremamente difícil.

Alguns começaram a parecer confusos e Sharon ficou irritada.

— Engraçado como sem a presença dela todos tem certeza, até Ian queria matá-la. Agora ficam aí como se não tivessem vontade própria.

— Esqueça que eu existo, Sharon.

— Ela mente! Vocês não veem?

— Não estou mentindo.

Nate ficara quieto e depois de ouvir algo que Cal lhe cochichou ele disse.

— Você tem como provar as coisas que diz, Peg?

— Sim, eu tenho.

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