segunda-feira, 24 de junho de 2013

AEDDC - Capítulo 5

Notas do capítulo
Este capítulo é baseado no capítulo bônus escrito por Stephenie Meyer e que se encaixa entre os capítulos Morta e Lembrada, respectivamente capítulos 58 e 59 do livro.
Abro os olhos no meu antigo quarto, na casa em que eu morava quando tinha uma família. O cheiro familiar preenche o ar e me conta que minha mãe está preparando o prato preferido de meu pai. Os dois conversam e riem animadamente, sua alegria acalmando meu coração agoniado, e eu consigo enxergar seus sorrisos mesmo sem vê-los. Por que será que não consigo me sentir alegre também?


Levanto-me da cama, sentindo um impulso incontrolável de ir até eles. É o que eu preciso, não é? Estar junto de alguém que amo... Chegar a tempo... Proteger.

No entanto, meus passos não cobrem distância nenhuma e quanto mais eu ando pelo corredor para chegar à cozinha, mais distante eu fico.

Ótimo, um pesadelo! – é o que me informa a parte de mim que está consciente dentro do meu inconsciente.

Continuo andando, mas a porta da cozinha nunca chega e as risadas vão ficando mais distantes, como memórias. As paredes são de pedra agora.

– Por favor, acorde! – implora Kyle num sussurro. Mas não é comigo que ele fala. É com Jodi, adormecida no hospital de Doc.

Pra sempre? – Algo em mim pergunta de novo.

– Por favor, volte. Não suporto mais ficar sozinho! – Kyle volta a implorar, mas a voz não é mais a dele. É mais calma, embora igualmente cheia de dor. E está saindo da minha boca.

É Peg quem está deitada no catre agora e sou eu quem está implorando. Ela abre os olhos e sorri, mas quando estende os braços é Jared quem ela levanta para abraçar. Eles estão felizes e ela olha para mim, o brilho prateado desaparecendo lentamente de seus olhos:

– Ela está presa aqui dentro, Ian. É como uma prisão... mais que isso; não consigo sequer descrevê-lo. Ela é como um fantasma. E eu posso libertá-la. Eu posso devolvê-la a si mesma.

– Então, devolva! Devolva-a para mim, Melanie. Eu a amo.

– Ela ama você, também. Ela, a pequena lacraia prateada no fundo da minha cabeça. Mas meu corpo não ama você. Não pode amar você. Ela nunca poderá amar você nesse corpo, Ian. Eu não amo você.

– Não, Melanie, você tem que fazer a Peg voltar, você não pode deixá-la partir. Ache-a aí dentro de você...

Jared me olha indiferente, mas Melanie sofre por mim. Ela se solta dos braços dele e me abraça. É tudo o que eu sempre quis, mas na verdade não é. É errado e estranho e dá pra ver isso com clareza, por isso Jared nem se importa. Ela não cabe mais nos meus braços como cabia antes. Procura um lugar em meu abraço, mas não encontra, por isso se afasta:

– Sinto muito, Ian.

Um grito se forma em minha garganta e o som que ele faz desaparece quando eu acordo. Já há luz e meus olhos me dizem, um segundo depois de meus braços, que Peg não está lá. Eu me levanto e saio correndo para encontrá-la. Corro até a praça principal e o nó em minha garganta se desfaz, lá está ela, correndo para mim também. É tamanha minha vontade de abraçá-la que eu seguro seus braços primeiro para que meu corpo não se choque com o dela. Um sorriso começa a se formar em meu rosto quando olho para Peg. Para Peg, não, para Melanie. Olhos desconhecidos num rosto que minha memória decorou como sendo o daquela que eu amo.

O pensamento nem chegou a se formar em minha mente. Foi meu coração que sentiu. Milésimos de segundo antes que o meu cérebro pudesse processar qualquer informação, minha alma já sabia o que aquilo significava. Peregrina se foi.

Eu olho para Melanie. Ela é linda e meus sentidos estão acostumados a amá-la, a dar as boas-vindas a ela, mas há um buraco entre nós dois. Eu a soltei e me afastei do corpo que aprendi a amar. Tocá-la era como dar um abraço numa amiga de infância que você não vê há muitos anos. Você sabe que aquela pessoa sabe coisas essenciais sobre quem você é, sobre o barro de que você é feito, mas ela te parece só uma estranha e nada mais. O corpo não acha mais o caminho de volta para algo que não pertence mais ao coração.

Continuei me sentindo como no meu sonho, nada fazia muito sentido, embora eu entendesse tudo. Eu sempre pensei que quando alguém passa por uma dor muito forte, fica anestesiado, entorpecido. Foi assim que me senti quando perdi minha mãe. Quando ela se foi, eu pude sentir meu coração se partindo. O pavor de toda criança se realizando. O desamparo imenso de saber que, dali para frente, tudo seria diferente. Mas meu cérebro infantil não pôde perceber a exata dimensão dessa mudança, o tamanho exato dessa tristeza. Só com o passar dos anos eu pude realmente saber o que aquela perda significava e quanto sofrimento ela ainda traria.

Quando Kyle e eu viemos para cá e soubemos que não podíamos salvar nosso pai, fiquei enfurecido. Eu senti tanta raiva que ela tomou conta de mim, substituindo e anestesiando a dor até que eu pudesse lidar com ela.

Mas cada dor é diferente, ao que parece.

Agora, não havia raiva ou confusão, eu não estava entorpecido, nem furioso, estava dolorosamente consciente. Consciente de que a mulher que eu amava tinha silenciosa e sorrateiramente se retirado da minha vida. Para sempre.

Mas aquela era Peg, não era? Pura e simplesmente a essência de Peregrina. A razão e resultado de seu sacrifício estava aqui, diante dos meus olhos. Linda. Livre. Viva. Ela ficaria feliz em poder ver Mel com seus próprios olhos. Não é estúpido? Eu nem sabia se ela tinha olhos.

Um sorrisinho besta começou a se formar no meu rosto. Eu acho que estava ficando louco. Podia quase ver minha sanidade desaparecendo, como se eu fosse um hospedeiro abandonado e deixado pra trás. O coitado do Ian se desfazendo e virando só uma carcaça, usada e jogada fora. Que ótimo, eu já estava pensando em mim mesmo na terceira pessoa! O maluco do Ian estava indo mesmo ladeira abaixo!

"Ela está bem. Está num tanque. Vamos arranjar um corpo para ela. Ela vai ficar bem. Bem. Ela está bem."

Melanie parecia meio louca também, a voz quase desaparecendo pouco antes de acabar de falar. Não é a voz que eu conheço. Não tem a inflexão doce com que estou acostumado. Por um momento, me sinto ainda mais infeliz ao perceber que jamais ouvirei aquela voz novamente. Não saindo da boca de Peg, pelo menos. Tento me agarrar às lembranças antes que comecem a desvanecer, mas há algo mais urgente a considerar. Algo que me puxa para fora de meu momentâneo poço de loucura. O que Mel diz faz parar o processo de desintegração.

Peregrina está viva, podemos trazê-la de volta. Eu olho para Melanie e reconheço nela uma amiga. Temos algo em comum, nós a amamos.

Ela olha para mim de volta. Estende os braços até o meio do caminho de um abraço, mas desiste. Eu consigo vê-la lutando com o impulso de me tocar. Ela não sabe o que fazer. Nem eu. Não consigo comandar meus braços em direção a ela. Por instantes intermináveis, nossos corpos não se pertencem. Não posso abraçar uma amiga no corpo que abrigava a mulher que eu amo. Não ainda. Não enquanto ela não tem um corpo para ser abraçado.

Posso perceber que Melanie não sabe o que eu sou para ela. Eu não sei o que ela é para mim. Ainda não. Dói demais olhar para ela. Tento fazer meu corpo e minha mente encontrarem um caminho até ela, mas não consigo. Sinto-me como tantas vezes ela deve ter se sentido, frustrado, porque, nesse momento, meu corpo não me pertence. E o corpo dela também não. Como posso me permitir ter qualquer sentimento que seja por Melanie nesse momento? Não a odeio, ela é parte de Peg. Mas ela também é a razão pela qual Peg não está mais aqui.

–“Você quer... ir até ela?” – Melanie pergunta, como em resposta a esse pensamento.

Ir até ela? Ela não está aqui.

Depois penso na fita prateada. Se alguém abrisse um ser humano em busca de sua essência, não encontraria nada. Trata-se de algo invisível. Mas toda a magnificência dela, todo o ser esplêndido que é Peregrina, é visível, é lindo, e cabe inteiro na minha mão. Seria uma coisa fascinante se não fosse tão triste.

– Ela está com Doc – diz Melanie enquanto se vira e começa a caminhar lenta e silenciosamente pelo túnel sul. Num movimento mecânico, eu a sigo.

Essa é, entretanto, uma distância que eu posso vencer. Não como no meu sonho quando meus passos pareciam me empurrar para trás. Ela ainda está aqui. Não como um corpo. Não como uma mulher. Mas como aquele impressionante ser esplêndido e frágil que eu preciso proteger.

Peregrina é uma Alma sem corpo. Esse que eu habito é um corpo sem alma. Nós precisamos um do outro, mais do que eu pensei, afinal. Esse pensamento me faz andar mais rápido.

Melanie anda em silêncio, mas algo pesa sobre os seus ombros até que ela me deixa saber o quê:

– Eu não pude pará-la.

Lembro-me de Jared, do quanto ele brigou para que Melanie tivesse seu corpo de volta. Lembro-me de ter pensado que ela entenderia a importância de Peg para nós e que por isso, talvez, até se sacrificasse. Mas nunca pensei realmente que ela não quisesse seu corpo de volta. Eu finalmente quebro meu silêncio. Minha voz sai como se eu não falasse há dias:

– Você quis?

Saiu como uma acusação, mas não era. Ou era?

– Sim – ela responde.

Não posso vê-la e nem a conheço o suficiente para perceber se há hesitação na sua voz. Tiro um segundo para apreciar a mentira piedosa que ela me conta.

Será piedade de mim ou de si mesma? Talvez dizer que sim seja uma forma de aceitar mais facilmente o sacrifício de Peg. Seria possível dividir todos os momentos, todas as emoções, todas as suas lembranças, tudo o que o que você é com outro ser e não amá-lo? Seria possível aceitar passivamente o desaparecimento desse alguém sem sentir culpa?

– Por quê? – pergunto finalmente.

– Por que... ela é minha melhor amiga.

Aquela resposta faz tudo se encaixar e por um minuto as coisas deixam de ser confusas naquelas cavernas, onde os sentimentos se emaranham e se chocam.

– Eu estava me perguntando sobre isso.

Ela não diz nada, continua esperando que eu nos conduza pelos labirintos de milhares de coisas que ainda estão por dizer.

– Eu estava me perguntando se alguém que realmente a conhecesse poderia não amá-la. Você conhece cada parte dela.

– Sim. Eu a amo.

Obviamente. Como eu pensava, era impossível não amar alguém que se conhecia tão intimamente. Ainda mais alguém como Peg.

– Mas você deve ter querido seu corpo de volta?

– Não se isso significasse perdê-la.

Não sei bem por que, mas isso me fez sentir grato. Não, na verdade eu sabia. Melanie amava Peg tanto quanto eu. De outra maneira, é claro, mas com a mesma intensidade. Isso nos unia, nos fazia irmãos em um propósito: o de protegê-la, não importa o que acontecesse. Eu tinha certeza agora que tudo daria certo. Nada nos abateria. Afinal, essa garota era dura na queda.

– Ela não vai embora desse planeta!

– Essa nunca foi a intenção dela. – Melanie responde depois de um segundo tentando entender o que eu tinha dito.

Agora quem não entendia era eu. Qual era a intenção dela então?

– Ela estava inventando isso para que vocês não brigassem com ela. Ela queria ficar aqui... Ela planejava… bem, ela planejava ser enterrada aqui. Com Walter e Wes.

Essas palavras me pararam como se houvesse uma parede em minha frente. A traição que ela estava planejando era mil vezes maior do que eu imaginava. Suicídio. Essa palavra me bateu como um soco na cara. Não ir viver em outro lugar. Não continuar a vida onde não houvesse emoções humanas. Não deixar tudo isso para trás e corajosamente recomeçar. O que ela queria era morrer.

Melanie disse algo sobre como logo iríamos arranjar um corpo para ela ou algo assim, mas eu não me importei. Tudo o que nós vivemos, tudo o que ela me disse... Tudo era apenas uma despedida. Eu me senti abandonado, usado. Durante meses eu tinha sido seu protetor, seu enfermeiro, seu melhor amigo, tudo o que ela tinha precisado, na hora que ela tinha precisado. Peg tinha jurado me amar para sempre, mas o para sempre dela teria acabado no dia seguinte.

- Como ela pôde pensar em fazer isso comigo?

Uma voz desconhecida saiu de dentro da minha garganta. A voz de alguém que era capaz de odiar. A voz de alguém que era capaz de qualquer coisa. Fiquei surpreso até de conseguir organizá-la em sons inteligíveis. A minha vontade era de ser capaz de rugir.

- Não – Melanie responde com suavidade, como se tentasse acalmar uma criança birrenta – Não foi nada disso. Ela sentia que te magoava mais ficando aqui… nesse corpo.

Bela desculpa!

– Isso é ridículo! Como ela podia preferir morrer a ir embora?

Melanie ainda conversava com o menino mimado:

- Ela ama esse planeta. Não queria viver em nenhum outro lugar.

Ah! Então a solução que ela encontrou foi se matar! Brilhante, Peguizinha!

- Nunca achei que ela fosse do tipo que desiste.

- Ela não é! – Melanie levantou o tom de voz. Ela estava irritada comigo agora. Nada mais de paciência com a criança que não entende as coisas. Mas ela se conteve logo em seguida, talvez se lembrando do quanto essa situação era delicada. – Peg... Ela achava que estava cansada de ser uma parasita, mas eu acho que ela estava simplesmente cansada de tudo. Ela estava exaurida, Ian. Mais do que deixava qualquer um perceber. Perder Wes daquele jeito... Foi demais para ela. Ela se culpava…

- Mas ela não teve nada a ver com aquilo…

- Tente dizer isso a ela! – ela diz, perdendo a paciência de novo.

Como se eu não vivesse tentando dizer as coisas para Peregrina. Eu fico olhando para ela sem realmente vê-la na escuridão. Eu sei que ela também não está me vendo, mesmo assim mantenho um olhar desafiador. Também estou irritado com ela. Bem, não com ela. Mas quase.

Ela respira fundo e suaviza a voz novamente:

– Depois ter que encarar a Buscadora. Foi mais difícil do que você imagina. Mas mais do que qualquer dessas coisas, amar você enquanto... amava Jared. Amar o Jamie achando que ele precisava bem mais de mim do que dela. Me amar. Ela sentia que nos magoava apenas por respirar. Não acho que você possa entender como era isso tudo para ela, pois você é humano. Você não pode imaginar o quanto ela... ela…

A voz de Melanie falhou e eu pude sentir nessa voz a dor que ela dividiu com Peregrina. Jogar a cartada do “você é humano” foi golpe baixo, mas também me ajudou a acordar. Vezes sem conta nas últimas horas, eu tinha posto minha mente no banco do passageiro e deixado minhas emoções tomarem o volante. Mas ter que lidar com as emoções de Mel, me trouxe de volta ao comando de mim mesmo:

- Acho que entendo o que você quer dizer.

- Então ela realmente precisava de um tempo, mas acabou ficando toda... melodramática sobre isso. E eu pensei que não pudesse salvá-la. Não sabia que Jared estava nos seguindo.

Jared. Então foi ele que a salvou. Quando minha Peregrina precisou de mim, era Jared quem estava lá para ela. Não pude evitar uma pontada de ciúme, mas acho que eu tinha mesmo era que ser grato. Se não fosse por ele...

- Jared percebeu, mas eu não.

- Jared é apenas cauteloso demais. Sempre. Ele exagera. Demais.

- Mas ele estava certo.

- Sim. – ela suspirou, demonstrando que estava tão aliviada quanto eu - Paranoia pode ser útil às vezes.

- Você acha que ela vai ficar brava com a gente quando acordar?

- Peg, Brava? Ah, por favor. – bufou Mel, nós dois mais relaxados agora.

- Infeliz, então?

– Ela vai ficar bem – Mel completou sem maiores explicações.

Aquilo não foi o suficiente para mim. Quer dizer, eu entendia o que ela estava dizendo. Ela sabia que Peg ficaria feliz em ficar na Terra sabendo que isso contentaria a nós todos. Eu também sabia disso. Mel podia conhecê-la melhor do que ninguém, melhor do que eu jamais conheceria, provavelmente. Mas eu tinha passado todos esses meses tentando decifrá-la. E eu era bom com enigmas. No entanto, eu fui ingênuo o suficiente para ser enganado por alguém que só tinha aprendido a mentir e enganar recentemente. Aparentemente, eu não era tão perspicaz quanto tinha pensado.

– O que você disse antes, sobre ela amar você, e Jamie e Jared... e a mim.

– Sim?

– Você acha que ela realmente me ama ou estava apenas respondendo ao fato de eu amá-la? Tentando me fazer feliz? Só estou perguntando porque não quero ser um... um fardo quando ela acordar.

Não quero que ela fique aqui sofrendo por Jared e permanecendo ao meu lado apenas para me fazer feliz. Não quero que ela fique infeliz. Eu não suportaria. Porém, eu queria com todas as minhas forças que ela ficasse na Terra. Dependendo da resposta de Mel, eu teria um novo impasse em minhas mãos e tinha certeza que não aguentaria outra pancada daquelas. Eu já estava me sentindo como se meu corpo tivesse estado embaixo de um rolo compressor. Entretanto, eu precisava saber.

Melanie não respondeu. Ficou pensando por um tempo. Isso era mau sinal.

– Não se preocupe em poupar meus sentimentos. Eu quero a verdade.

Pra ser sincero, outra mentira piedosa me faria bem, mas eu não podia me dar a esse luxo. E eu já tinha percebido que Mel não é daquelas que “apalpa” para dizer as coisas. Se eu tinha que ser esmagado pela verdade, era melhor não deixar nem um pouquinho para amanhã.

– Não é com seus sentimentos que estou preocupada. – Viu? Nada de apalpar! – Só estou tentando pensar no jeito certo de descrever. Eu não tenho sido... completamente humana no último ano, então a entendo, mas não estou certa de que você entenderia.

– Experimente – eu disse, me preparando para o próximo baque.

– É forte, Ian. O que ela sente por você é algo além. Ela ama esse mundo, mas muito da razão para que ela não conseguisse deixá-lo era você. Ela considera você a âncora dela. Você deu a ela uma razão para finalmente ficar em algum lugar depois de uma vida toda de peregrinação.

A melhor declaração de amor de Peregrina para mim, ao menos aquela que me fez sentir realmente seguro e compreender seus sentimentos, tinha sido feita por Melanie. Era confuso, mas acho que eu teria que me contentar com isso por enquanto. Era mais do que o suficiente.

– Então tudo bem.

– Sim.

Eu sabia agora que podia confiar inteiramente em Melanie. Que ela saberia escolher o corpo que serviria de lar a Peregrina melhor do que eu. Aquele ia ser também o meu lar, o novo corpo dela. Significava demais para mim para que eu me arriscasse a errar. Além disso, eu não conseguiria sair de perto dela. Eu seria o lar dela enquanto ela não pudesse ser o meu.

– Não se apresse – eu disse a Mel.

– O quê?

– Quando você for procurar o corpo para ela. Vá com calma. Se certifique de achar um que a deixe feliz. Eu posso esperar.

Eu podia. Pela felicidade eu podia esperar.

Já estávamos perto do hospital agora, havia luz o suficiente para que eu visse o rosto dela. Ela parecia decepcionada, com medo de dar o próximo passo sozinha. Mas ela não estava sozinha. Jared estaria com ela todo o tempo de agora em diante. E eu confiava nele para fazer sempre a coisa certa. Tinha que confiar agora.

– Você não virá conosco?

– Não me importo com essa parte. Você sabe do que ela precisa. E eu prefiro estar aqui com ela.

Nós entramos de vez na luz. Para mim era mais do que isso. Eu estava pulando de cabeça naquela luz, na certeza de que seríamos felizes. Eu estava vendo as profundezas transparentes e calmas do mar.

Jared estava debruçado sobre o catre, velando por Peg. Não senti mais ciúmes. Eu sabia que só eu podia ver o quanto ela era linda em sua forma original. Um minúsculo anjo prateado. Ele se afastou quando me viu, para que eu assumisse o posto a partir dali. Eu o agradeci por ele ter feito o que eu deveria ter feito. Mas talvez ele soubesse que eu fiz por Melanie o que ele deveria ter feito quando Peg estava no corpo dela. O ele me disse simplesmente foi:

– Eu devia isso a ela.

Jared era um homem de verdades simples. Ele era alguém em quem se podia confiar, e eu sabia que ele não decepcionaria Melanie. Ou Peregrina.

Suspirei de alívio. De amor. De dor. Toda a angústia deixando meu corpo no momento em que segurei o tanque em minhas mãos. Naquele tanque estava a minha vida e eu não a soltaria nunca mais.

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