domingo, 23 de junho de 2013

CD - Capítulo 13

POV – Logan


“Há algo errado”, meu cérebro semi-acordado grita enquanto meus braços tateiam no escuro em busca de algo que deveria estar ali, mas não está. Sento-me na cama e acendo a luz, abrindo meus olhos para um dia que nem nasceu e já traz a consciência do fim de alguma coisa. Levo uns segundos para perceber que estou no quarto de Estrela e que ela não está ali.



“Droga! Quanto tempo eu dormi?” Checo o relógio e descubro que são 05h30min. Lembro-me de estar com Estrela por volta das 2 da manhã, “ela não deve ter saído há mais de três horas, então,” calculo.

Meu corpo desperta de imediato quando começo a procurar pelos sinais dela e não encontro. As roupas que compramos para John e para ela, as poucas peças de que ela mais gostava, não estão ali. E o sinal mais claro de todos, a percepção inegável de que ela tinha tentado destruir meu mundo, Peg não está mais em seu canto costumeiro, desafiando-me em silencio a manter Estrela aqui comigo.

Tudo bem, Peg. Você pode achar que venceu, mas é você mesma quem vai entregar a vitória para mim.

Checo no meu localizador as coordenadas de um certo dispositivo rastreador colocado dias antes num certo criotanque. Ela não está tão longe. Está perto do ponto onde a encontramos. Verifico o lugar onde guardo as chaves e percebo que está faltando a do Mustang.

“Boa escolha, Estrelinha, ainda bem para mim que você não sabe dirigir com câmbio manual, não é mesmo?”

Eis uma explicação para que ela ainda não esteja tão longe, apesar das três horas que nos separam. Com certeza, não soube viajar rápido como aquele carro possibilitaria. Mas eu sim, viajarei rápido. Quem vai parar um Buscador?

“Ah, Estrelinha, você é tão bobinha que chego a achar graça!”, consigo pensar enquanto a imagino esforçando-se para dirigir meu bebê”.

Ainda estou rindo dela, quando meus olhos pousam sobre uma folha de papel dobrada sobre a mesa. Tem meu nome escrito nas costas com a letra floreada com que Estrela escrevia. Seguro o papel ansioso e ao mesmo tempo temendo a dor que aquelas palavras poderiam me causar. Não há nada que Estrela possa dizer que possa fazer eu me sentir melhor. Mas há infinitas possibilidades de que ela me faça sofrer ainda mais.

No entanto, é inútil adiar, não há tempo para isso. Em poucos minutos o dia vai nascer e Estrela vai se embrenhar pelas areias do deserto sob o Sol. Desdobro a carta e preparo-me para ouvir sua doce voz em meu coração:


“Meu amado Logan,


Por favor, não pense que a conversa de ontem não significou nada para mim. Eu também te amo e os sonhos de uma vida ao seu lado embalarão os dias que me restarem. Mas eles serão apenas sonhos, eu não posso vivê-los. A vida de felicidade que eles me prometem não é para mim.

Sei que você vai dizer que eu só preciso querer e, acredite, eu quero. Mas as coisas não são tão simples assim. Há muitas outras coisas que esse corpo me faz querer também. Eu quero estar com os humanos de Peg. Quero que John conheça o pai e que Ian saiba que sua amada não está morta.

E você não sabe o que é querer tão intensamente ir pra casa. Você não sabe a dor que é viver dividida, partida ao meio. Esse corpo me comanda, Logan, determina o curso das minhas emoções e eu não aquento mais.

Tomei a melhor decisão para todos nós, principalmente para John. Você pode não concordar agora, mas mais tarde, quando estiver de volta ao controle de sua vida, você me agradecerá. Eu só te trouxe sofrimento e a vida que me espera é complicada demais para que eu deixe ela te engolfar também.

Por favor, não venha atrás de mim. É melhor assim. Desculpe pelo carro, sei que você o ama, mas eu não tive outra maneira. Eu te amo, meu querido, meu amigo, meu protetor. Mas agora sou eu que devo proteger você.

Seja feliz.


Estrelas Refletidas no Gelo”


Minhas mãos tremiam furiosamente quando acabei de ler a carta. Tremiam de ódio, de frustração, de medo de que eu nunca a tivesse de volta. Como ela podia imaginar que eu não sabia o que era estar dividido? Aqui estava eu, constantemente me partindo ao meio, me mudando para poder alinhar meus sentimentos e minhas expectativas com as dela. Não era justo. Eu estava disposto a ser tudo o que ela precisava e ela não estava disposta a me escolher. Sim, talvez eu não entendesse mesmo. Mas ela só podia estar maluca se pensava que eu a deixaria fugir sem me explicar. Ela achou mesmo que eu não iria atrás dela? Que a deixaria ir embora levando meu mundo em si e não reagiria?

Eu me sentia traído, preterido, subestimado e eu não sabia qual dessas coisas doía mais. Decidi guardar tudo isso no fundo da minha mente para analisar depois, quando não houvesse uma louca tentando se matar se eu não a impedisse. Passei a mão no telefone ao mesmo tempo em que determinava as mentiras que diria a seguir, ordenando meu plano de ação, já que não podia ordenar meu universo.

– Alô. – disse a voz sonolenta de Águas Claras do outro lado da linha.

– Olá, Águas Claras. Me desculpe pela hora, mas é que eu preciso muito falar com você.

– Está tudo bem?

– Sim. É que Estrela se lembrou de uma coisa que pode ajudar nas buscas pelo esconderijo dos humanos. Ela se lembrou de que sua Conselheira mora em Atlanta. Talvez ela possa lançar uma luz sobre como Peregrina pode ter começado a se relacionar com os humanos.

– Mas Atlanta? É tão longe, é do outro lado do país! E por que essa notícia não podia esperar até eu acordar? – perguntou ela, mostrando-se mal-humorada pela primeira vez.

– Desculpe. É que eu estou mesmo empolgado com a pista. Mas como eu e Estrela vamos ficar fora por várias semanas, contatei um Curandeiro de lá para cuidar dela. Você sabe, com a diferença de fuso horário, lá em Atlanta já são 9h. Ele pediu que você enviasse suas recomendações e os exames de Estrela, para que ele possa se inteirar da situação.

– Tudo bem. Vou mandar agora para seu celular. Vocês partem logo?

– Sim, o avião sai em duas horas. Por favor, avise a todos.

– Avisarei. Cuide bem dela.

– Pode deixar. Tchau.

– Boa viagem.

Desliguei o telefone satisfeito com o fato de que minha mentira tinha rendido um álibi para nosso desaparecimento, e também as condições para que um outro Curandeiro pudesse atender aquela maluquinha se eu não tivesse tempo de trazê-la de volta. Mentir estava ficando cada vez mais fácil pra mim. E Estrela achava que eu não conseguiria me adaptar ao mundo dos humanos!

Pego a chave do Porsche, já sabendo o quanto vai doer ter que encher seus velozes pneus com areia do deserto, mas eu preciso de sua velocidade essa manhã. Tenho certeza de que Estrela abandonou o Mustang em algum lugar, temerosa de que eu ou algum outro Buscador pudéssemos encontrar o carro perto demais do esconderijo dos humanos. Queria que ela não pensasse assim, ao menos dentro do carro ela teria uma chance contra o sol escaldante, mas eu conhecia aquela cabecinha desconfiada. Mal sabia ela que eu podia localizá-la pela única coisa que eu sabia que ela não abandonaria. Só espero que ela tenha tido a “decência” de abandonar “meu bebê” em algum lugar escondido em que eu possa recuperá-lo mais tarde.

Dou partida no carro e dirijo o mais rápido possível dentro da cidade sem chamar atenção. O que não era muito. Minha adrenalina está ao máximo, mas eu sei que ter que parar para me explicar a alguém me atrasaria ainda mais. Assim que atinjo a estrada, acoplo uma sirene no topo do carro e acelero ao máximo. É cedo e não há ninguém por boa parte da estrada. Desacelero quando percebo um ou outro veículo pelo caminho, mas assim que vislumbro um horizonte solitário, faço “meu bebê” voar pelo asfalto vazio. A paisagem vira apenas um risco nas laterais de meu campo de visão e eu me sinto livre. Só existe uma coisa nesse mundo que meus olhos queiram ver e minha imaginação voa mais rápido do que os pneus velozes de meu carro.

Em pouco tempo, encontro o ponto do deserto para onde o localizador aponta. Entro com o carro sem diminuir a velocidade e a areia se levanta como um furacão. Escondido atrás de um colina, vejo meu Mustang vazio e sei que estou no caminho certo.

“Minha pobre Estrelinha! Tão previsível!”, mais uma vez rio por ela achar que poderia se esconder de mim. O localizador indica que ela caminhou cerca de dois quilômetros, o que me surpreende, mas que há muitos minutos está parada no mesmo lugar. Sinto um aperto no peito imaginando o porquê. Piso fundo no acelerador só diminuindo quando o localizador indica que estou perto. Desço do carro e vejo um pequeno corpo sucumbido ao calor.

“Ah, Estrelinha, você é mesmo uma idiota!”, penso enquanto corro em direção a ela. Sem nem saber como, venço os metros que nos separam e lembro-me com desespero de quando meu hospedeiro teve o corpo de Lindsay nos braços. Eu não poderia suportar...

A pele branca de Estrela estava toda queimada e ela estava inconsciente, mas estava viva. Tudo o que eu pude fazer por alguns instantes foi abraçá-la, apesar dos gemidos involuntários que ela soltava quando minha pele tocava na sua.

Eu sabia o que fazer em casos de insolação, mas não havia nada que eu pudesse fazer para aliviar as queimaduras agora. Mais urgente era hidratá-la e tirá-la do sol. Levei-a para dentro do Porsche, fechando as portas e ligando o ar condicionado no último. Fiz com que ela bebesse água e tirei uma de suas camisetas de dentro da mochila, embebendo-a com o resto de água da garrafa, para aliviar um pouco o ardor da pele. Aos poucos, Estrela acordou, mas seus olhos estavam delirantes por causa da febre.

– Logan! – ela disse, sorrindo de um jeito estranho – Você já me trouxe de volta?

Estrela levantou a mão e tentou tocar meu rosto, mas não teve forças o suficiente nem para isso. Depois de alguns segundos, ela abriu os olhos de novo, mas não me reconheceu:

– Ian... Você está aqui? Ah, Ian eu senti tanto sua falta! – ela disse depois, olhando além de mim e fazendo meu coração se contorcer em dores estranhas. Como era o nome disso que eu sentia? – Ian, você precisa me levar até o Doc. Eu preciso do Doc. Estou morrendo, Ian!

– Eu não sou o Ian. E você não vai morrer, Estrela! – disse pegando-a nos braços novamente e saindo de novo para o deserto – AQUI ESTÁ ELA, HUMANOS! – gritei – ELA PRECISA DE VOCÊS!

Nada além de minha própria voz ecoou na imensidão do deserto, mas eu continuei gritando. Lembrei-me da buzina e fiz com que ela soasse com toda a força, diminuindo os intervalos entre uma e outra buzinada à medida que as palavras de Estrela iam ficando mais desconexas. Meu desespero tinha alcançado níveis inimagináveis quando notei um vulto solitário movendo-se no topo das colinas.

Pousei o corpo de Estrela no chão de areia e me postei à frente dela com minha arma apontada para baixo, numa atitude que indicava claramente que eu não atiraria primeiro, mas que também não estava disposto a morrer. Não hoje.

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