sábado, 22 de junho de 2013

EVEOM - Capítulo 4

Acordei com risos, virei na cama e Renée não estava, levantei renovada, o corpo leve, abri a janela para um dia lindo, o céu começa a clarear, pequenos raios de sol tomando o lugar, meus olhos se acostumaram rapidamente, segui em silencio para aporta, os risos mais frenquentes e altos.

– Serio Charlie?
– Isso aconteceu dezenas de vezes!
– Eu fico apavora só de imaginar – pude ouvir ao abrir cuidadosamente a porta, René estava vestida comportadamente, sorrindo encantadora para meu irmão – se perder pelo mercado com cartões de credito é uma coisa, agora sem nada... – disse tomando um suco.
– Por isso que eu lhe digo para não se afastar, Esme eu sei que não irá, mas...
– Já eu, não se preocupe, não me afastarei de você – disse seria, dando a entender um duplo sentindo.
Meu irmão retribuiu o olhar, sem jeito comeu pedaço torrada com geleia, sujando o canto da boca e vi René em ação, ela foi muito rápida, levando o dedo ao canto da boca dele e removendo a geleia. Sugando a ponta do dedo com os olhos em Charlie. Ele abriu a boca, seu rosto corou e preferi me fazer presente para salvá-lo. Girei a maçaneta com força para ser ouvida.
– Bom dia! – digo e Renée fecha a cara, mas logo sorri, Charlie parecia segurar uma gargalhada de alivio.
– Bom dia minha luz, preparada para conhecer Alfama?
– Sim! – digo e sigo para o banheiro, fiz minha higiene com calma e voltei a mesa, Renée estava concentrada na paisagem, ela ficou zangada com minha interrupção.


...
– Porque paramos aqui? – perguntou Renée, quando descemos na entrada de Alfama, em uma mercearia.
– Meu amigo virá nos ajudar com as malas, iremos em um buggy! Ai esta ele – disse e vimos um homem moreno estacionar o buggy de quatro lugares em nossa frente.
– Preparados senhoritas e senhor? – disse cumprimentando Renée e parou em minha frente – é uma honra finalmente conhecê-la senhorita, Charlie fala muito de você – disse acenando com a cabeça.
– Prazer senhor?
– Billy Black – respondeu Charlie mal humorado – mantenha a lábia longe delas Black. Posso falar de mais com a Sarah! – riu ao final.
– Nem brinque com uma coisa dessas! Então vamos?
– Sim, estou louca pra conhecer nossa casa e aprender a me perder nas ruelas de Alfama – disse Renée sorrindo para Charlie.
Billy foi dirigindo e Renée seguiu no banco de trás ao ver que Charlie iria atrás segurando as malas por causa dos paralelepípedos. Enquanto Billy contava alguns fatos sobre o bairro, Renée fazia questão de perguntar sobre as lojinhas e mercadinhos que lhe chamavam atenção o que acontecia com frequência.
– Ela não é nada sutil não é? – sussurrou Billy. Sorri confirmando – acho que entendo porque são tão amigas... – olhei sem entender e ergui uma sobrancelha – ela é a voz e você a razão! – ri com seu raciocínio, talvez fosse isso!
Após alguns quilômetros ladeiras a cima e passar por ruelas que pareciam labirintos que se fechavam, deixando a estrada cada vez mais fina, paramos em frente a uma casa de azulejos delicadamente desenhados, desci encantada, sem conseguir olhar para outro lugar, acompanhei o intricado desenho, contando uma historia, que mesmo sem saber exatamente do que se trata, me fez aprecia-la com intensidade.
– É lindo! – disse Renée após soltar um assovio – você tem razão Charlie, espero que tenha muito tempo sobrando para me ajudar a decorar o caminho e nos levar aos pontos turísticos...
– Após aprendermos a nos virarmos por Alfama! – completo.
– Claro, será um prazer – disse, mas não estava olhando para nenhuma de nos duas, ele estava concentrado removendo nossas malas do buggy.
seguimos Charlie e Billy, subindo uma pequena escada, toda em azulejos, quando entramos, encontramos uma aconchegante sala, totalmente diferente da sala do apartamento. Tudo com uma decoração que nos leva a casa dos avos apesar da casa dos meus nunca ter sido assim, mas o mesmo sabor de lar doce lar que se encontra na casa deles é esse que encontro nesta.
– Tão delicada!
– Como alguém tão másculo tem uma casa tão perfeita e suave como esta? – perguntou Renée.
– Quando comprei ela já era assim, como a maioria das casas por aqui, acho que o único cômodo diferente é meu quarto e o banheiro, ambos do meu gosto e não é difícil deixar uma casa suave, quando só usamos em fins de semana!
– Eu tenho que ir Charlie! Tenho que me apressar para ir buscar as meninas, hoje elas saem mais cedo! – disse Billy.
Obrigado amigo, agradeça Sarah por mim e um abraço para as gêmeas!
– Sem problemas, no meio da semana viremos ajudar as garotas e assim Rebecca e Rachel ganham a chance de destruir alguma coisa por aqui! Boa estadia senhoritas – disse dando um aceno de cabeça e partiu.
– Bom... sejam bem vindas a nossa casa – disse Charlie estendendo a mão por todo cômodo – acho que Billy deixou as malas no quarto de cada uma, fiquem a vontade para escolher, a casa é pequena, mas temos quatro quartos!
– Esse é o seu? – perguntou Renée após olhar rapidamente para os cômodos.
– Sim! – ela sorriu e seguiu para o quarto ao lado, entrou e depois saiu sorridente.
– Eu gostei deste, mas se quiser ficar com esse não há problemas Esme...
– Não me importa Renée, eu fico com qualquer um! Vamos guardar as coisas ou você nos levará para um passeio?
– Vamos passear um pouco? – pediu parando em frente a Charlie.
Após guardarmos nossas malas nos devidos quartos, Charlie nos acompanhou por uma pequena caminhada, andamos por poucas ruas, apenas para conhecermos alguns mercadores, Charlie já era bem conhecido por todos, alguns faziam reverencias. Alguns mercadores o cumprimentavam em árabe.
– Sua mulher? – perguntou um menino ao ver Renée pegar um dos lenços e prender como uma menina prendia, ela se agachou e prendeu de forma correta.
– Ah... – Charlie não soube responder e contive um sorriso.
– Ainda não, estou sobe sua proteção, mas isso não irá demorar! – sussurrou beijando a testa do mesmo que corou e correu para dentro da loja – disse algo errado? – perguntou-me quando a menina veio com outro véu e começou a me cobrir.
– Tens um tempestade em seu teto meu amigo! – ouvi um rapaz que veio ate Charlie o cumprimentando com um abraço e beijo no rosto, como o costume mulçumano.
– Sim, Amum, tenho águas turbulentas em minha proteção – ouvi responder.
– Ficou lindo – disse em inglês a menina, tão pequenina, o rosto infantil coberto pelo véu, apenas uma pequena mecha deixava o cabelo negro a mostra e ela logo tratou de guardá-la. Sorri tocando seu nariz.
– Radja ? – chamou e a menina correu para o lado do homem que conversava com Charlie.
– Linda como uma gazela – a pequena tentou cochichar, no ouvi dele.
– Sim, a mais bela – respondeu me olhando intensamente – esta é sua irmã Charlie?
– Sim – respondeu Charlie sorrindo e me puxando para seus braços – ficou linda de véu...
– Renée esta mais – digo soltando a pequena presilha que Radja colocou. Viramos e Renée estava com Radja do outro lado da loja, tentando alguns passos de dança do ventre – ela não tem travas, com licença – digo caminhando ate minha amiga – Renée?
– Sim?
– O que você tem na cabeça? Elas não podem dançar em publico...
– Qual é Esme, ela é só uma criança...
– Não, ela já é uma mulher! Todas as mulher mulçumanas usam véu após menstruarem, você pode estar ofendendo a religião deles! – ela bufou e parou de dançar, se despediu e voltamos ate Charlie, desta vez segurei as mãos de Renée.
– Venham ate minha casa, será um prazer recebê-los – disse apertando a mão de Charlie e puxando para um abraço – estes são um presente – disse segurando o véu em minha mão. Depois nos cumprimentou com acenos e seguimos.
– Vamos ao mirante antes de voltarmos? - pediu Renée – ele gostou de você – disse Renée quando chegamos ao belo mirante.
Nos sentamos, o sol começava a ficar apino, estava começando a suar, me sentei na pequena sombra de uma palmeira imperial, Charlie sentou ao meu lado, removendo o casaco, Renée encontrou com algumas crianças e começou a brincar com elas. Tanta paciência e carinho, tenho certeza que ela seria uma boa mãe, inconscientemente toquei minha barriga.
– Eu vou cuidar de vocês, vou pedir a esposa do Billy o endereço do medico – disse Charlie pondo uma mexa do meu cabelo para trás.


– Eu agradeço, mas não estava pensando exatamente nisso, apesar de dever.
– Estava pensando em que?
– Nela. Renée não pode ficar presa a nos... precisamos terminar nossos estudos, assim ela fará uma faculdade e ficará conosco se quiser e não por falta de opção – digo baixo e me apoiei nele.
– Bom, isso é uma escolha dela, mas quanto a você... farei de tudo por vocês, passou por tudo o que não devia minha irmã. Precisa estar cercada de felicidade, longe de qualquer mal, preciso saber de sua saúde e a de meu sobrinho - disse com os olhos em Renée.
Charlie permaneceu olhando para ela, que girava em seu vestido comprido e leve, as crianças rindo, se despedindo dela e correndo para os pais. Renée caminhou devagar ate nos, seus olhos em Charlie e um grande sorriso, sentou ao lado dele e olhou a vista, fez algumas perguntas, fiquei olhando o mar, um azul profundo, já esta na hora de cair na realidade....
– Desculpe Esme? – pediu Renée tocando em meu rosto e me assustando – opa, foi mal. Eu me esqueci de seu estado, esse sol a fará mal, vamos para casa Charlie? – perguntou tocando a testa dele, pondo uma mexa fina de volta ao lugar, Charlie limpou a garganta por ter gaguejado e nos levou para casa.


...
– Isso é muito complicado! – chiou Renée.
– Não é, isso é só no inicio, logo você aprende – disse Sarah, esposa de Billy.
Estamos a quase uma semana estudando a língua portuguesa, Sarah esteve no segundo dia aqui e se prontificou a nos ensinar a língua, suas filhas estavam dormindo no meu quarto, enquanto ela nos ensinava. A língua portuguesa é uma língua complicada, cada palavra para um significado, não como a nossa que uma palavra serve para muitas frases diferentes!
Eu já me arriscava um pouco, enquanto Renée tinha dificuldades, passamos todos as manhãs com ela e a tarde eu ensino hebraico para Renée e por incrível que pareça, ela tem mais habilidade para falar em hebraico do que em português.
– Chega por hoje? – implorou.
– Tudo bem, mas isso é porque esta na hora do almoço.
Acenei seguindo para meu quarto, Rebecca e Rachel dormiam quase abraçadas em minha cama, os cabelos negros, pele levemente bronzeada, quase idênticas, se não fosse o nariz arrebitado e os cabelos cacheados de Rebecca, me troquei com rapidez. Renée entrou com os livros e cadernos, deixando no canto do meu quarto, Sarah recolhendo Rachel primeiro levando-a para o carrinho, enquanto Renée voltou-se para Rebecca.
– Elas são tão lindas! – disse Renée com ela no colo, sorri vendo como a menina se encaixa em seu colo.
– Sim! Que eu seja abençoa com uma criança linda como esta – digo quando caminhamos para a sala.
– E você Renée, já esta na idade para casar, vejo que será uma mãe zelosa – disse Sarah ao ver o carinho de Renée com as meninas.
– Eu amo crianças Sarah, mas ser mãe é muita responsabilidade, antes de ter um filho quero curti meu marido, não há libido que sobreviva a noites mal dormidas e cólicas infantis – disse tocando o rosto da pequena em seu colo – e vou cuidar do meu afilhado primeiro – disse me olhando – assim que ele ou ela estiver correndo por essa casa eu penso nisso...
Primeiro precisa do pai... – sorriu Sarah e ouvi clique da porta, Renée riu para Sarah.
– O pai eu já tenho Sarah, mas será difícil manejá-lo, mas minha avó dizia que a mulher é sabia, precisa de calma e paciência para domar e manejar o marido ou algo assim – disse pondo a bebê no carrinho.
– Que perigo em Charlie!– ouvimos Billy que entrou já verificando as filhas.
– Boa tarde? – cumprimentou – estão prontas?
– Sim, podemos ir quando quiser! – digo e o vejo olhar para Renée, corando.
O caminho ate o consultório foi feito em silencio, Renée foi na frente com Charlie e eu preferi ir atrás, após alguns minutos chegamos em frente ao consultório, um prédio antigo, da monarquia. Entramos em um moderno e luxuoso hall, os corredores cheios de detalhes, varias lojas com produtos infantis nas vitrines, seguimos pelo elevador. Totalmente em contraste com a fachada do prédio. No quarto andar estava uma enorme placa “consultórios ginecológicos”
Charlie seguiu ate a jovem atendente, perguntando se a medica já se encontrava e seguimos em suas costas, Renée chiou algo parecido com vadia e olhei para ela, ela faltava pulverizar a atendente e só então reparei.
– Nome por favor – falou de uma forma arrastada sussurrada, doce de mais.
– Micael Charlie Rosental – disse sem olhar para ela e ela fingiu não perceber e se inclinou para ele.
– Eu vou matar essa vadia – sibilou Renée seguindo para o lado de Charlie e não se importou em segurar no braço dele. Charlie ficou sem entender, mantendo os olhos em Renée.
– A Drª já os espera – disse, mas Charlie ainda mantinha os olhos em Renée.
– Obriga, podem esperar aqui que já volto – digo e vou caminhando para a porta que a recepcionista informou.
– Espere Esme, quer mesmo ir sozinha, Renée pode entrar ou se quiser...eu entro.
– Não há necessidade, podem ficar – digo e vejo Renée sorriu de canto a canto e atando sua mão na de Charlie.
Respirei fundo e entrei no consultório. Após perguntas superficiais e apresentações, a Drª passou a anotar sobre meu estado clinico. Pediu que me trocasse, segui para o pequeno banheiro. Pediu que me deitasse, avisando que poderia incomodar um pouco.
– Preferência? Gêmeos, um, sexo?
– Saudável é tudo que espero – digo e comecei a registrar o que dizia, e se eu estivesse grávida de gêmeos? Eu não quero saber agora – Drª apenas me diga se esta tudo bem, quero descobrir quantos e o sexo apenas na hora do nascimento – digo por fim.
– Tudo parece estar na mais perfeita ordem, vocês estão perfeitos, como vi por sua ficha é judaica... acredito que não precisarei passar uma lista de alimentos para você?
– Não senhora – sorriu.
– Fico feliz por isso Naamã! – disse meu nome hebraico.


...
– Isso pequenina – digo pegando-a no colo, brincava com Rachel que se negava a dormir, Billy e Sarah a deixaram comigo, ambas, mas Rebecca já havia se entregado ao sono. Seu rostinho cansado, bocejando com frequência... comecei a cantar yerushalayim shel zahav e ela logo deitou quieta em meu colo, sua mãozinha brincando com uma mexa do meu cabelo.
Quando seus movimentos pararam, ainda permaneci com ela em meu colo, sua respiração ritmada em meu pescoço, olhei pela janela a movimentação na rua. Renée e Charlie surgiram sorrindo, ambos carregavam varias sacolas, segui para meu quarto, colocando-a em minha cama. Cerquei os lados e dividi a cama, enquanto Rebecca se movimentava, Rachel dormia sem um único movimento.
– Eu tenho certeza... – ouvi a fala cortada por sorrisos de Renée.
– Boa noite... – digo caminhando ate a poltrona.
– Desculpe a demora, mas precisa preparar algo, afinal já passou hora da tektiá el-g'daouere* - disse Charlie e levei outro tapa da realidade.
As lagrimas desciam sem meu consentimento, meu bebê não poderia passar por todas as cerimônias...
– Minha luz, não chore... – Charlie me abraçou forte – bons sentimentos lembra-se?
– Meu bebê não poderá...
– E porque não? – exigiu Renée. Suas mãos na cintura.
– Você é judia, criada nos costumes judaicos e pelo que me lembre, e que você mesma me ensinou, uma criança nascida de mãe judia é judeu! Tem todos os direitos e deveres de um, por tanto tem o direito de passar por cada uma das cerimônias, se bem que fico com dó da parte da circuncisão, mas isso pertence a crença de vocês e deve ser respeitada. Então tire esse choro do rosto, lagrimas só de felicidade. Compramos os mais belos tecidos para o corte da primeira roupa, então á menos que queira seu bebê vestindo uma macacão com pontas soltas é melhor tratar de começar a fazer , pois sou um desastre nesta parte e pretendo aprender com você! – disse e me fez chorar de felicidade.
Corri para seus braços e a apertei, eu não tinha palavras para agradecer o que ela fazia, suas palavras me davam forças, mesmo que em algumas o meu bebê não pudesse, eu faria de tudo para que ele aprendesse e cultivasse nossos costumes.
– Oh minha amiga... qual foi a expressão que usou... Adonai? Sim, vocês são abençoados por Adonai e esta pagã aqui se esforçará para ser o melhor exemplo dos costumes judaicos que possam encontrar...
Senti os braços de Charlie envolverem meus ombros, Renée segurava minhas mãos – terá a mais perfeita gestação, Naamã – disse e beijou meus cabelos.
– Então vamos começar a fazer a roupa? Você vai amar os tecidos Esme – disse Renée sorrindo.
Ok, me mostrem o que trouxeram?
No outro segundo Renée espalhou alguns embrulhos pela mesa, um tecido mais rico e perfeito que outro, as agulhas e linhas, revistas para modelos, Renée explicava que queria saber alguns para quando fosse sua vez, contando como foi sair ás compras com Charlie pela rua Augusta. Que tiveram com Amum, comprando a maior parte dos produtos com ele.
Charlie sorria encantado para Renée e virou me flagrando, sorriu corando e mexeu envergonhado no cabelo, um sorriso dançou em seus lábios e voltou o olhar para Renée que pedia sua ajuda para contar a aventura na loja que foi aberta só para eles escolherem os tecidos. Após escolhermos os tecidos eu expliquei como faríamos o casaquinho, deixando tudo separado para começarmos a fazer assim que o dia amanhecesse.

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