quarta-feira, 26 de junho de 2013

LDS - Capítulo 8

Horas depois, alimentada e limpa, Jeb me levou para conhecer meu novo lar, as cavernas. Trudy nos acompanhou e eles me apresentaram para os poucos humanos que quiseram me conhecer. Poucos, mas
algo me dizia que eram os que realmente valiam à pena: Geoffrey, marido de Trudy, Heath, o amigo deles, Lily e Heidi, duas garotas adoráveis que me disseram que tinham ajudado a cuidar de meu corpo, e um casal simpático, Andy e Paige. Já era hora de jantar, então fomos todos à cozinha e eu me servi de mais algumas coisas que me deram: uma omelete, algumas frutas e um refrigerante.

Eu estava feliz e meu corpo satisfeito, mas algo me preocupava. Kyle não tinha aparecido para jantar e durante todo o dia eu não o vi. Será que ele estava fugindo de mim? Será que era difícil para ele estar ao meu lado quando isso significava que Jodi não estava ali?

Trudy estava me observando enquanto preparava uma bandeja cheia de comida. Será que ela ia comer tudo aquilo? Ela empurrou a bandeja para mim e disse:

– Kyle dormiu o dia todo. Já passou da hora de acordar. Se vai começar com isso de trocar o dia pela noite, ele vai ficar em apuros porque não vamos mais fazer a parte dele no trabalho!

Eu não me mexi, não tinha certeza do que ela queria que eu fizesse. Trudy empurrou a bandeja pra mim mais um pouco:

– Vamos, flor! O que está esperando para ir acordá-lo?

– Você acha que ele vai querer me ver?

– Com esse tanto de comida, Kyle daria as boas vindas até a um leão! Imagina se ele não vai querer ver você, florzinha!

Eu estava gostando de ser chamada assim, devo admitir. O jeito como Trudy reagia a mim me fazia sentir cuidada, acolhida. Ela me dava forças e eu resolvi tentar. Afinal, ela era humana, entendia o comportamento dos outros humanos bem melhor do que eu jamais entenderia.

Ela me levou até a porta de onde ele estava, um dos lugares usados como quartos com duas portas tampando a entrada. Trudy cochichou no meu ouvido:

– Seja doce!

Depois bateu na porta e saiu em disparada pelo corredor. Ouvi um farfalhar de movimentos e Kyle abriu a porta me olhando meio surpreso.

– Sunny, o que aconteceu?

Os olhos dele caíram sobre a comida e ele pareceu mesmo faminto ao fazer isso. Falei antes que ele tivesse a chance:

– Trudy achou que você estaria com fome. Ela me mandou aqui para te trazer comida.

– Ele mandou, é? Essa Trudy! – disse ele estreitando os olhos em uma expressão esquisita – Bom, ela estava certa de todo jeito. Entre, sente-se aqui comigo.

Ele colocou a porta no lugar e, pegando a bandeja de minhas mãos sentou-se com ela no colo. Havia outra cama no quarto, mas decidi sentar-me ao lado dele, fascinada que estava com a velocidade alucinante com que a comida desaparecia. Não sei bem por que, mas achei aquilo muito engraçado e soltei uma risadinha involuntária.

– Que foi? – perguntou Kyle de boca cheia.

– Nada. Você está mesmo com fome, não é?

Ligeiramente envergonhado com seus próprios modos, ele parou de repente e pareceu se dar conta de alguma coisa:

– Puxa, que idiota que eu sou. Achei que a comida toda fosse para mim!

– E é! Não se preocupe comigo, eu já comi o bastante. Só estava achando engraçada a rapidez com que você come. Pode te fazer mal.

– Faz nada! Jodi sempre dizia isso e nunca aconteceu nada.

A descontração que tinha aparecido no rosto dele sumiu em poucos segundos ao mencionar o nome dela. Era como se ele tivesse se lembrado de que devia estar triste. Pois eu ia me espreitar por qualquer buraquinho que surgisse na sua parede de gelo.

– Sinto muito – eu disse aproveitando para acariciar seu rosto.

Ele segurou a mão que estava em seu rosto e me olhou com um olhar pensativo.

– Não foi sua culpa. Eu sei – essa última parte dita para si mesmo – Como foi seu dia? Desculpe por não estar lá com você depois que acordou. Eu realmente precisava ficar sozinho e... descansar um pouco.

– Tudo bem. Eu entendo. Tive um ótimo dia. Conheci as cavernas e um pouco do pessoal que mora aqui. Lily e Heidi me arranjaram umas roupas limpas. Ficam um pouco grandes em mim, mas elas disseram que iam convencer uma tal de Lacey a me ceder alguma coisa. Disseram que não ia ser fácil.

– Lacey é uma idiota, não se preocupe com ela. Peg e eu podemos te arranjar o que quiser na próxima incursão e...

Ele pareceu se lembrar de repente de que isso não seria possível, ao menos não tão cedo:

– As roupas de Lily e Heidi estão boas. Você está linda.

– Você também está.

– Estou nada, Sunny! Não precisa querer me fazer sentir bem a todo o momento. Sei que estou sujo e com a cara amassada de tanto dormir.

– Parece bonito o bastante para mim.

– Isso é porque você é tão boa comigo.

– Eu quero que você se sinta bem.

– Eu também quero que você se sinta bem. Sou o responsável por você estar aqui. Você sabe que não podemos te deixar ir embora, não sabe?

Nem eu queria ir. Onde é que ele queria chegar? Eu sabia que jamais poderia voltar para a minha vida normal, nem ela seria normal novamente, mesmo que eu pudesse. Afinal, agora sempre haveria Kyle. Claro que eu sentiria falta das Almas que habitam os pais de Jodi e sentiria falta de não ter o sol sobre mim o tempo todo, mas eu tinha Kyle. Se era aqui que ele estava, era aqui que eu estaria. Afinal, eu não tinha mais nada.

– Eu não quero ir embora. Quero ficar aqui com você. E com Trudy e Peg quando ela voltar. Você gostaria que eu fosse embora?

– NÃO! – disse ele mais do que depressa e mais enfaticamente do que o necessário. Isso me deixou contente.

– Obrigada. Trudy me disse que você cuidou de mim enquanto eu estava no criotanque. Obrigada por isso também.

– Eu não queria que você se sentisse abandonada.

– Eu não sinto nada Kyle, quando não estou em um corpo.

– Então eu não queria sentir que te abandonei.

Sorri para ele. Queria continuar perto dele, tocá-lo, mas não sabia até que ponto ele me permitiria fazer isso. Não sabia o quanto a minha presença o machucaria de fato.

– Não quero ser um fardo para você. Você não tem obrigações comigo. Se não quiser ficar perto de mim, não vou impor minha presença a você. Só me diga como devem ser as coisas agora.

Kyle não disse nada. Ele ficou pensando por uns minutos, seu semblante profundamente sério. Depois ele fez um gesto com a mão como se empurrasse a seriedade para um canto e desfez a cara sisuda, porque, pelo visto, aquilo simplesmente não era o estilo dele. Ele se aproximou de mim e me deu um beijo leve nos lábios, o olhar de quem pede permissão.

Eu o puxei para mais perto e me agarrei a ele deixando o meu corpo em contato com o dele o máximo que consegui. Então eu o beijei. Eu o beijei. Para que ele soubesse que eu estava ali, que não iria embora, que o queria e não desistiria dele. Ele não correspondeu como eu gostaria, mas tampouco me rejeitou.

– Não sei o que te dizer, Sunny. Não sei como serão as coisas daqui para frente. Quero dizer, você aqui... Eu não consigo resistir a você. É impossível. Mas eu não quero te magoar. Eu ainda amo a Jodi.

– Eu continuarei procurando, Kyle. Eu juro. Não a deixaria sofrendo sendo minha prisioneira sabendo o que isso significa para você. Mas de qualquer jeito, eu não preciso ir embora. Melanie está procurando uma nova hospedeira para Peg.

– Sim, mas nesse caso Jodi estaria aqui, como lidaríamos com isso?

A impossibilidade dessa realidade me fulminou. Mas eu não me deixaria abater por algo que eu tinha praticamente certeza que não aconteceria. Jodi não estava mais aqui, não podia estar.

– Eu estou aqui agora, Kyle. Eu te amo e estou aqui.

– Tem razão, pensaremos nisso quando chegar a hora.

Ou nunca. Jodi teve sua chance e não voltou para te reivindicar. Não acho que ela voltará. E, supondo que isso aconteça, vou garantir que possamos “brigar” de igual para igual até lá.

Senti-me possessiva e indigna com esses pensamentos, mas descobri que tinha lugar para eles em mim agora. Luz do Sol Através do Gelo podia conviver bem com Sunny e Sunny não desistiria.

Kyle podia estar partido, como disse Trudy, mas os braços dele em volta de mim, o toque cada vez mais furioso de seus lábios nos meus, seus olhos glaciais que se enterneciam somente ao olhar para mim, me diziam que uma parte dele já era minha. Afinal, cinco vidas eu vivi moldando o gelo a meu favor. Eu sabia que podia levar tempo.

Mas agora eu tinha tempo.
Fan Art feita por Daniela Martins Fonseca

Notas finais do capítulo
Gente, acabou. Sei que não ficou com cara de final., mas o final de Kyle e Sunny não pode ser nada definitivo. Afinal, tem muita coisa ainda a ser resolvida entre eles e Kyle precisará de tempo. Penso em falar um pouco mais sobre eles em uma outra história que tenha o ponto de vista de outro personagem. Estou meio insegura e aceitando opiniões.
De qualquer forma, obrigada a todos que leram. Àqueles cujos nomes eu sei: Sabrina, Samira, Talula, Cecília Luangel, Mirabella, AnaLena e Renan e também para aqueles que não se manifestaram.
Um agradecimento especial a Jipl e a Iara Ribeiro por serem as que primeiro me emocionaram lendo minhas duas fics.

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