domingo, 9 de junho de 2013

S - Capítulo 3

Assim que cheguei ao aeroporto de Dublin exatamente ás 14:45 do dia 23 de dezembro. Fazia algumas horas que eu tinha deixado o aeroporto de Amsterdã para trás e também uma linda moça, com a pele cor de oliva e lindos olhos castanhos amendoados e grandes.
Não consigo esquecer o beijo rápido que ela me deu ao se despedir e que me pegou totalmente de surpresa. Enrolo meu cachecol listrado preto e cinza e minha roca preta que protegeria não só minha cabeça mas também minha identidade. Depois que peguei minha mala na esteira, abri, peguei meu sobretudo preto que é o único casaco comprido que possuo e coloquei ajustando todos os botões para que eu não sentisse nada do ventinho frio que eu tinha certeza que estava fazendo lá fora.
Uma loucura é o que posso definir ao observar o cenário ao meu redor. Aeroportos em épocas natalinas eram sempre uma loucura, pessoas indo e vindo, encontros e despedidas. Com toda esse burburinho e pessoas pra lá e pra cá, eu não estou surpreso que não há um grupo de fãs gritando o meu nome ou paparazzis tirando fotos feito loucos. Peguei um táxi e sabia que desde o início da viagem até a casa dos meus pais até o fim eu estaria distraído pensando em Isabella. Tão bonita e tão eloquente. Quantos anos será que ela tem? Ela parece tão madura, sabe exatamente o que quer. Será que tem 25 anos como eu ou mais? Não que ela pareça mais velha, para dizer a verdade, ela parecia muito jovem, sua pele lisa e sem nenhuma maquiagem demonstrava isso, mas ela é tão persuasiva, tão segura de si que até me convenceu a pensar melhor em estudar, me especializar, cursar cinema talvez. Isso faria minha irmã sorrir. Kate sempre me disse que eu deveria me dedicar a minha carreira sim mas que deveria também cursar faculdade, algo ligado á arte ou pelo menos á área cinematográfica.
Provavelmente eu iria descansar pouco quando chegasse em casa. Iria para algum Pub com meus amigos de infância. Minha ex-namorada é agora uma de minhas melhores amigas, Tanya Denali, que namora meu grande amigo, Paul Lahote. Tomaríamos um monte de cerveja, tocaríamos violão, bêbados feito gambás. E mesmo eu sendo um irlandês típico, Guinness¹ não é a minha cerveja favorita. Eu só ficaria até dia 26 de dezembro e lamento terrivelmente ter que ir embora tão cedo. Quase não vejo minha família. Tenho saudades de passar minhas tardes atrás do balcão da padaria me entupindo de tudo que é doce e calórico.
Olho lá fora por um instante enquanto meus pensamentos me dão uma trégua. As lojas e ruas estão decoradas para o natal, lanternas, luminárias vermelhas com laços verdes, Papai Noel de papelão em algumas esquinas. E não parava de chover. Tudo tão diferente de Los Angeles, que é onde vivo agora. E imagino que diferente do Brasil também. Fico imaginando o que Isabella deve estar fazendo agora. Será que foi a praia? Pois sei que lá é quente nessa época do ano. Imagino aquele corpo em um biquíni branco contrastando com sua pele oliva. Pele essa que deve estar mais bronzeada pelo sol constante. Ah e as marcas de biquíni, então? É melhor eu não ir por esse caminho ou não vou conseguir esconder o volume em minhas calças.
Meus pais tem uma casa em cima da da padaria/mercearia da família, do lado norte do Rio Liffey. Dublin 1 é o bairro onde cresci e fica perto da Baía de Dublin cuja a padaria da família está localizada. O bom é que estamos bem perto do centro também. É um prédio de esquina, no final de uma quadra de pequenos comércios como o deles. O cheiro de maresia e o ar úmido me fazem sentir nostálgico.
Nem meus pais fugiram da decoração vermelho e verde, e bengalas natalinas espalhadas pela porta, todas juntas, com lâmpadas pisca-pisca. Fico olhando por um minuto para fachada da loja ainda dentro do táxi enquanto espero pelo troco. É tudo bem brega mas eu gosto muito. Podem me chamar de tradicionalista.
Meu pai, Carlisle, o patriarca da família Cullen, é o primeiro a olhar através da vitrine e sair para me ajudar com as malas mas não sem antes me abraçar apertado por um tempo.

— Meu filho, é muito bom vê-lo depois de tanto tempo. — ele me olha com intensidade e eu vejo que a emoção incontida em seus olhos azuis brilhantes. Ele ainda usa o avental branco que sempre usou para atender a clientela. — Sua mãe preparou alguns Donuts com cobertura de chocolate para você.

Ele acabou de diminuir o meu cansaço de viagem em quase 100% quando disse as palavras “Donuts” e “Chocolate” na mesma frase. Eu pensei sorrindo.

— Poxa pai! Eu senti saudades de vocês e disso tudo, sabia? — eu digo apontando para o prédio e tudo ao redor. — Vamos ver o que as mulheres estão aprontando lá dentro. — Eu o abraço e nos dirigimos para dentro com as malas e meu violão.

Minha mãe, Esme, me abraça tão forte que eu me sinto emocionado me lembrando da última vez em que estive em casa. Afago seus cabelos cor de mel, absorvendo o cheiro de violetas de seu perfume. Observo que seus cabelos estão maiores do que da última vez. Ainda há um casal tomando um café e provando a torta de cereja que é uma das especialidades da minha mãe. Estão sentado em uma pequena mesa perto da janela e no fim do balcão de atendimento, de madeira antiga e escura. Quantas vezes eu trabalhei no atendimento bem atrás desse mesmo balcão? E eu detestava usar o avental, mas adorava fazer entregas. A mocinha que está com o rapaz, sentados na mesa, um tipo mignon, estava olhando para mim e sorrindo timidamente. Ela percebeu quem eu era, e eu sorri de volta. Minha mãe muito perspicaz, abre a portinhola que usamos para atravessar o balcão e me guia porta a dentro. Vamos pela cozinha e finalmente estamos no corredor que nos leva para as escadas do apartamento no andar superior.

— Venha, meu filho! Você deve estar cansado e tudo que você não precisa são pessoas te pedindo autografo e atrapalhando o fluxo da loja.

Quando entro na sala de estar do apartamento, Kate corre na minha direção, saltando sobre mim e me abraçando de forma estabanada. Típico dela. Tão loira quanto nosso pai e tão alegre quanto nossa mãe. Mas ninguém sabe de onde veio esse jeito espevitado que ela tem.

— Então, maninho, finalmente vai assumir esse namoro com Rosalie ou os jornais estão mais uma vez exagerando? — ela me pergunta com os olhos levemente estreitados.

— Você, sendo professora e formada em jornalismo, deveria saber melhor do que ninguém que não se deve acreditar em tudo que a imprensa diz. — meu tom é levemente de reprimenda mas ela sabe que eu nunca sou tão sério. Ainda estamos abraçados. — Mais tarde, eu vou para o O'Donoghue's² encontrar Tanya e Paul e quem sabe fazer um som juntos. Gostaria de ir conosco? E então você nos acompanha com o seu violino, afinal não é sempre que você tem a oportunidade de tocar com os melhores. — eu dou uma gargalhada e Kate dá um tapa leve em meu ombro se desvencilhando de meus braços.

— Ora, mas que convencido... Veja só mãe o que Hollywood faz com as pessoas! — e eu só percebo agora que nossa mãe estava atrás de nós escutando toda a conversa. — E aquele seu amigo bonito e com sotaque charmoso, vai estar lá também? — Nossa! Kate não tem vergonha de ser assanhada, não? Eu me pergunto com meio sorriso.

— Quem? — eu pergunto me fazendo de desentendido mas sei muito bem de quem ela está falando.

— Ora, o cowboy! Alto, com um sorriso preguiçoso nos lábios, fala mansa e jeito descansado, o Garrett.

— Humm, sei...parece que você andou observando bem, hein maninha? — eu começo a gargalhar e me afastar porque sei que Kate vai correr atrás de mim para me dar uns tapas. Como eu previ, ela corre atrás de mim com uma revista enrolada em formato cilíndrico, e eu me escondo atrás de Dona Esme. — Mãe, olha ela. — e logo estamos correndo em círculos em volta da mesa com nossa mãe rindo de nós. — Pare, por favor! Uma trégua. — eu paro, respirando pesadamente, tentando puxar todo o ar do planeta. Kate sorri vitoriosa com as mãos na cintura. — Garrett está em casa em algum lugar de Luisiana mas logo vai sair em turnê depois de janeiro.

— Bom saber! — Kate me dá uma piscadela sentando-se no sofá logo em seguida.

— Ah, mas pode ir tirando o seu cavalinho da chuva, pois para que o romance entre vocês vingue, você teria que viajar com ele e eu sei que você adora o seu emprego na universidade daqui.

— Até que não seria má ideia viajar por aí com a banda dele, hein? Afinal sou jornalista mesmo... — Kate tem uma expressão de quem está tendo ideias mirabolantes.

Nossa mãe parou bem atrás da poltrona onde Kate estava sentada, ainda com o um pano de pratos sobre o ombro e um pequeno sorriso irônico nos lábios.

— Edward não dê ideias para a sua irmã, Deus sabe que ela já é bastante criativa sem a sua ajuda. E filhos, por favor não bebam muito hoje no O'Donoghue's. Da última vez, Edward, te trouxeram desmaiado, carregado por dois colegas pelas pernas e braços. E você Kate, já que não mora mais conosco, eu não sei como são seus porres, mas isso não quer dizer que eu queira descobrir hoje.

— Tecnicamente, nem eu moro mais com vocês, mamãe! — eu digo lançando o meu melhor olhar inocente para ela. Mas ela está bem séria e irredutível.

— Não fujam do assunto, crianças! — agora ela tem mas mãos nos quadris e um severo olhar de advertência.

— Juramos, mamãe! — falamos Kate e eu em uníssono. E completo logo em seguida. — Hoje vai ser somente cerveja. Senão amanhã ficarei imprestável e eu quero ajudar na padaria pois vai ser um dia cheio, hein Dona Esme? — eu sacudo as sobrancelhas, sorrindo para ela e funcionou. Ela estava se segurando para não sorrir.

— Agora, venham para a cozinha, tem Donuts com cobertura de chocolate ao leite e torta de cereja, café e chocolate quente esperando por vocês.

Acho que meus olhos até brilharam. Salivei só com a lembrança do sabor dos Donuts que minha mãe prepara. Sou louco por doces porque Dona Esme é a melhor doceira de toda a Irlanda, quiçá de toda a Europa.

— Nossa maninho, você precisa ver a cara de babão que você fez agora...não sei como não engorda do jeito que se entope de doces. Tsk, tsk, tsk. — Kate me provoca com um olhar desafiador enquanto caminhamos para cozinha.

— Apenas olhe e aprenda, invejosa! — eu mostro a língua pra ela, sorrindo logo em seguida.

— Oh! Mãe olha ele me provocando. — ela me mostra a língua também e taca um pedaço do papel toalha que estava solto em cima da mesa da cozinha.

— Jesus! Quantos anos vocês têm? Cinco? Francamente, depois não gostam quando os chamo de crianças. — Nossa mãe diz exasperada com a nossa demonstração de infantilidade. Mal sabe ela, que fazemos isso só para deixá-la exasperada mesmo. Sabemos que ela morre de saudades de nós quando éramos crianças.

[…]

Como tínhamos combinado, estamos na frente do O'Donoghue's com nossos instrumentos. Mesmo o bar sendo tão simples a primeira vista, janelões simples e letreiro sem graça preto e branco, eu senti algo que eu já não sentia há muito tempo. Frio na barriga e intimidado. Eu me sentia tão pequeno naquele momento...
Logo Kate encontra um conhecido na entrada e eu vou entrando, ainda segurando minha case, mesmo com o meu gorro de lã preto, eu ainda me perguntava se eu ia ser reconhecido e a noite seria de fotos e gente pedindo autografo, ou eu não seria reconhecido e minha noite seria normal ou ainda eu seria reconhecido e minha noite seria normal como qualquer outra. Talvez se eu tirasse o gorro, eu corresse o risco de que meu cabelo me denunciasse. Melhor manter o gorro, não é mesmo?
Eu sentia tanta saudades desse lugar. Tudo tão rústico. O balcão do bar repleto copos e pessoas debruçadas nele e de garrafas penduradas de ponta-cabeça no teto. Um falatório. Tanya já estava sentada com seu banjo no canto onde tradicionalmente ficavam os músicos. Era uma mesa com assentos acolchoados e as paredes adornadas por muitas fotos de músicos que já passaram pelo bar. Tanya e Paul tem uma banda de música tradicional irlandesa e me chamaram para tocar e Kate, que é uma boa violinista não poderia ficar de fora.
Abracei meus amigos e conversamos enquanto ajeitávamos nosso instrumentos. Sinalizei, erguendo minha mão, chamando-a para juntar-se a nós, pois íamos começar a tocar. Logo no começo alguém bateu uma foto mas eu não sei de onde veio, só vi o flash. Vou me preocupar com isso depois. Tocamos The Galway Girl de Steve Earle, um pouco modificado por causa do violino e da percussão mais acústica de Paul. A bar todo se animou e algumas pessoas cantavam conosco fazendo um bonito coro. Logo depois tocamos Gold de Glen Hansard, um dos meus músicos irlandeses preferidos. E eu pensei em Isabella. Foi tão forte que me arrepiou inteiro. Principalmente na seguinte estrofe do começo da música:

And I love her so
I wouldn't trade her for gold
I'm walking on moonbeams
I was born with a silve spoon

E eu a amo tanto
Não a trocaria nem por ouro
Caminho sobre raios de luar
Nasci em berço de ouro.

Muito profundo para uma simples noite de música de cerveja. Era amor mesmo? Eu me perguntava enquanto tocava a música. Meu Deus! Estou mesmo apaixonado por Isabella Swan. E não faço a menor ideia de onde e como posso encontrá-la.

[…]

— Já é terceira vez que você me chama de Isabella hoje e só ontem foram quatro vezes. E olha que estamos em pleno feriado de 25 de dezembro. Fico imaginando se isso vai se repetir até a sua partida amanhã. — minha irmã reclamou impaciente, enquanto entrava no meu quarto. Eu estou na frente do meu laptop pesquisando sobre faculdades de cinema que eu poderia cursar. — Me conta logo quem é essa tal Isabella. Por acaso é uma atriz, ou modelo lá daquela fábrica de celebridades onde você vive? — Kate senta-se em minha cama, de modo que possa visualizar o que está na tela do meu laptop.

— Não, mas é artista com certeza. Porém mais na área acadêmica do que na industria de entretenimento. Ela está cursando mestrado em Artes, em Berlim. — eu olho para Kate, esperando sua reação. Ela está surpresa.

— Sério? Nossa...Uau...nada como uma mulher inteligente para ou fazer um homem fugir ou fazê-lo querer se igualar. Então é por isso que você está pesquisando sobre universidades com curso de cinema desde manhã cedo?

— Mais ou menos. — eu não ia deixar minha irmã pensar que ela estava certa nem por um segundo. — Digamos que Isabella é convincente. E muito linda. — eu suspiro ao dizer essas últimas palavras e isso não passa despercebido.

— Há quanto tempo vocês estão namorando? Não vi nenhuma notícia nos jornais sobre isso então, tenho que parabenizar aquela sua agente, Sra. Volturi por trabalhar duro ao manter a sua privacidade. — Por que Kate tinha que ser tão irônica? Isso é tão irritante...

— Você acredita que já colocaram um vídeo feito no celular da nossa apresentação no O'Donoghue's? E já tem cem mil visualizações...— eu olho para a minha irmã na esperança de que ela se distraia e esqueça dessa assunto, mas em vez disso, ela apenas me encara com os olhos estreitos, mostrando que ela não vai deixar passar. — Não estamos namorando mas eu adoraria. Nos encontramos no aeroporto de Amsterdã durante escalas em comum. Na verdade, não tão em comum já que fomos forçados por uma nevasca a passar mais de 4 horas juntos. Quando a vi numa loja duty-free dançando enquanto comprava alguns CDs, fiquei fascinado. Kate, ela é linda, tem uma pele cor de oliva que dá vontade de tocar de tão perfeita. Quantas pessoas com a pele nesse tom você conhece? Ainda mais aqui na Irlanda. Isso me tirou do sério. Então começamos a conversar em um Café, e eu descobri que ela é muito inteligente, decidida, fala pelo menos três línguas e é muito sincera. E toca violão muito bem e tem uma voz tão linda, forte e rouca que deixa qualquer um arrepiado. Mas ao nos despedirmos, ela não quis trocar nenhuma informação de contato, deixando tudo ao acaso. Serendipity, ela disse. E pra mim só sobrou um beijo estalinho que ela me deu antes de fazer o check-in de embarque para o Brasil.

— Poxa, Edward! Você descreveu a mulher perfeita e não pegou nem um telefone de contato? — Kate cruza os braços, incrédula.

— Sério mesmo, infelizmente não peguei seu telefone... mas que história é essa de “mulher perfeita”? — eu faço as aspas com os dedos no ar para frisar as últimas palavras.

— No crivo Kate Cullen, meu bem! — ela aponta para si mesma como quem mostra a última garrafa d'água no deserto do Saara. — Mas não se desespere pois para encontrar alguém é que o Google realmente existe, ou você pensou que era somente para plagiar trabalhos escolares? — ela olha para mim sacudindo as sobrancelhas.

Kate é muito engraçada quando ela quer, eu penso já rindo alto.

— Anda logo, menino, abra uma nova aba e coloca o nome dela completo lá. Se ela estiver nas principais redes sociais, vão aparecer muitos resultados, a não ser que ela mantenha seus perfis privados, mas é difícil porque ela é artista também.

Minha irmã estava certa. A encontramos no Flickr, e lá ela tem milhares de fotos. Descobrimos que ela esteve viajando para muitos lugares, muitos deles exóticos, tipo Peru, Índia...Eu sou louco para visitar esses países e ela foi. E ela expôs alguns de seus trabalhos. Ela é uma ótima pintora. Suas obras tem um toque surrealista que eu adoro. Isabella tinha uma vida cultural mais rica viajando do que a minha pois apesar de eu viajar, eu não podia desfrutar dos locais para os quais eu viajava. Olhando suas fotos, ela parecia mergulhar na cultura local e isso refletiva em seus quadros. Isabella tinha um espírito aventureiro e eu sou mais pé no chão. Estar longe da minha família me custa mais do que gosto de admitir. Jane sempre mantem minha agenda lotada demais para que eu possa me dar a luxo de estar onde eu realmente quero estar.


6 meses mais tarde...

Eu estava saindo do táxi para ir ao show de Garrett. Tinha me preparado para esse momento há mais de um mês. Fiz a secretária de Jane trabalhar duro para liberar minhas noites de segundas e sextas. Se deixar, Jane me arranca o couro de tanto trabalhar, entrevistas, aparições em festas, premiações, etc...pelo menos nesse evento eu quero estar de verdade. Pleno verão em Los Angeles. Começo de junho. Calor, turistas, festas, festivais, tudo acontecendo ao mesmo tempo e muitas estreias no cinema. Inclusive o segundo filme da saga Heróis.

Céus! Agora mais do que nunca, eu preciso que ser discreto.

O show de Garrett, dessa vez, é em um clube pequeno e desconhecido, onde o público é mais underground³. E eu sei o motivo dele estar tocando aqui hoje. Ele está tocando com a banda de seu projeto paralelo de blues.
Entro discretamente no clube, que logo na primeira parte do ambiente tem um amplo bar com todos os tipos de cervejas e drinks que qualquer um pode querer. O palco não é muito grande mas os músicos podem se locomover nele tranquilamente. As pessoas estavam começando a se aglomerar no meio da pista. Os músicos da primeira banda começam a ajeitar os instrumentos e passar o som. Eu me virei para o balcão e pedi um whiskey com gelo. Está muito quente para um drink como esse puro.
De repente ouço uma voz que eu pensei que nunca fosse escutar novamente. E isso me fez levantar do banco onde eu estava, tomar de um só gole o resto do meu drink e ir caminhando totalmente hipnotizado, em direção ao palco. Era ela, mais linda do que nunca, usando saia jeans curta e justa, dois cintos pretos cruzados, caindo sobre os quadris e uma blusa branca com escrito em preto “Rock Star”. Os cabelos castanhos caiam como cascata emoldurando o rosto perfeito. Eu fiquei dois minutos olhando embasbacado para suas lindas pernas, que estavam escondidas em uma calça jeans quando nos conhecemos no aeroporto.

— Nós somos a banda alemã Deutsch Bar e eu vou ser sua nova vocalista nessa temporada, mas logo, logo Ângela volta pra vocês. — ela sorri olhando para o guitarrista, um loiro com cara de nerd, e eu percebo que é uma piada particular entre eles. Será que é namorado dela ou algo assim? — Para quebrar o gelo, um cover de Alice in Chains pra vocês.

Ela espera o baterista contar até 4 estalando suas baquetas e grita divinamente, pois a introdução de Them Bones da banda Alice in Chains tem uma introdução gritada. E é uma das minhas preferidas do albúm Dirt. Tão sombrio, pesado e Isabella está interpretando com maestria. Nunca imaginei essa música na voz dela. E ela está tão sexy em cima do palco, cheia de presença e concentração.

Será que ela me viu aqui? Se me viu, deve estar rindo internamente da minha cara de panaca, aqui parado.

Fiquei parado observando e me deleitando com a banda de Isabella, mas me afastei para o canto esquerdo e mais escuro ao lado do palco. Vi quando eles tocaram a última música. A banda de Garrett seria a próxima. Mas eles ainda tinham uns 20 minutos antes de começarem. Isabella apareceu já na pista andando em direção ao bar, seu corpo fazendo um movimento fodidamente sexy ao andar, seus seios balançando levemente enquanto caminhava mas foi parada por Garrett, interrompendo assim o meu espetáculo particular.

Será que eles se conhecem? Ah Garrett, seu safado, cachorro, cachaceiro...

Ele está sussurrando algo em seu ouvido, inclinado sobre ela, e ela está rindo de braços cruzados. Fico lembrando das palavras da minha irmã “sorriso preguiçoso, sotaque sulista e um jeito charmoso”. Com certeza, ele deve estar jogando todo o “charme sulista” pra cima dela. Da minha Isabella.

Minha Isabella? De onde veio isso?

Me aproximo devagar dos dois e Garrett está de frente e Isabella de costas para mim. Ele quando me vê, sorri com o um cigarro pendendo no canto da boca, e que ele nunca acende.

— Hey Bro, eu estava me perguntando onde você estava. — ele agora tem uma mão suspensa para me cumprimentar e eu aceito o cumprimento — eu queria te apresentar...

—Oi, Bella! — eu nem espero ele terminar, pois quero mostrar que eu a conheço e que eu vi primeiro.

Num primeiro momento, Isabella parece atordoada quando me vê, perdida mesmo, seu rosto fica lívido. Mas logo ela se recupera, levando sua mão até a minha estendida, ao invés de eu apertá-la cumprimentado-a, eu apenas acaricio seus dedos macios.

— Edward! — ela suspira meu nome e eu me encho de esperanças de que eu a afeto de alguma forma também.

— Serendipity! — eu digo e um sorriso fraco se forma em meus lábios.

— Destino! — ela diz me olhando nos olhos com seus grandes e amendoados olhos castanhos cor de chocolate derretido. E em seguida, meus olhos vão direto para sua boca carnuda e vermelha por causa do batom. Sua pele está ainda mais escura, bronzeada, fazendo seu tom oliva natural mais bonito ainda. Eu poderia apenas ficar olhando para ela pela eternidade.

Ficamos assim por alguns longos minutos, apenas olhando um para outro e somos interrompidos por um pigarrear de Garrett.

— Olha gente, eu tenho que ir tocar, mas Edward, a gente se fala depois do show, né?

— Claro! — eu respondo automaticamente mas sem deixar de encarar Bella, que está bem na minha frente. Espero que ele não fique chateado. Quando ele nos deixa a sós. Eu pego sua mão novamente. — O que você está bebendo hoje?

— Pra dizer a verdade, eu pretendia pedir um Screwdriver4 mas parei para falar com seu amigo , Garrett.

Caminhamos até o bar, e sentamos nos bancos altos e giratórios em frente. Peço as bebidas, para mim outro whiskey e para ela Screwdriver.

— E então, eu interrompi alguma coisa, entre você e Garrett? É que ele parecia estar jogando todo o seu charme pra cima de você...

Ai meu Deus! Espero que ela não perceba o meu ciúme embutido nessa frase mal formulada. Será que soei meio louco?

Bella apenas sorri e sua cabeça pende ligeiramente para baixo, enquanto parece olhar para as próprias mãos pousadas sobre seu colo. Quando ela volta a olhar para mim, me sinto aquecido com seu olhar.

— Há quanto tempo vocês são amigos? — ela sorri e desarma qualquer tentativa minha de me aborrecer com a pergunta.

Jesus, eu quero beijá-la...

— Somos amigos há mais de 5 anos. Nos conhecemos quando Garratt fazia um intercâmbio na Irlanda. Nos encontramos no O'Donoghue's e tocamos juntos, depois disso, a parceria musical e a amizade cresceram. As mulheres ficavam louca com o jeito de cowboy dele. Até a minha irmã ficou caidinha, para o meu total desgosto. — eu sorrio para ela, procurando seus olhos, olhando para sua boca linda que sorri para mim.

— Eu vi a sua apresentação nesse Pub, pelo Youtube. Era a sua irmã tocando violino lá? — estou surpreso com essa declaração. Ela esteve olhando coisas sobre mim na internet, é?

—Sim, ela toca violino e toca muito bem.

— Ela é bonita, mas não parece muito com você. — Bella não deixa de olhar em meus olhos em nenhum momento.

— É, dizem que ela se parece mais com o meu pai e que eu me pareço com minha vó por ser meio ruivo e o tom cinzento nos olhos verdes.

— Você tem olhos lindos... — ela me olha intensamente.

— Obrigado, mas você também tem. Um tom tão bonito de castanho...aliás Bella, você é toda linda. — Vi ela ofegar e um leve rubor tingir suas bochechas. Eu sinalizei para o barman trazer mais duas bebidas para nós pois vi que ela deu um longo gole em seu drink não restando nada.

— Você diz isso mas você namora com a mulher mais sexy do mundo segundo a revista Peaple.

Como é que é? Namorada? Quem?

— Ah, tá bom! — cruzo os braço sobre o meu peito e sorrio de um jeito irônico. — Se essa mulher existe e namora comigo, então ela esqueceu de me contar. Sou solteiro até onde sei e por muito mais tempo do que seria aceitável, devo admitir. — eu sorrio e ela parece confusa.

— Rosalie Hale não é sua namorada? — ela nem percebeu que a sua bebida tinha sido substituída e toma outro longo gole. Se ela não for devagar, vai estar bêbada antes da banda de Garrett terminar.

— Para uma pessoa crítica, você acredita demais na imprensa. — ela me olha ainda incrédula. — Rosalie é minha grande amiga porém nada mais que isso. Trabalhar juntos nos aproximou bastante, conhecemos a família um do outro, mas Rosalie tem um namorado e esse não sou eu. — eu sorri para ela e ela sorriu de volta parecendo finalmente acreditar em mim.

Olho a minha volta, verificando se o barman está por perto, pois não quero que ele escute nossa pequena conversa e saia por aí espalhando boatos. Me aproximo mais de Bella e digo segurando a sua mão entre as minhas.

— Eu sou todo seu se você quiser. — eu me aproximo mais de Bella, nossos rostos quase colados, nossos lábios levemente encostados. Posso sentir o sabor cítrico da laranja de seu drink em seus lábios. Praticamente sopro em seus lábios com meu sotaque irlândes carregado pois o álcool começou a fazer efeito. — E Deus sabe que eu estou louco para ser de alguém, Isabella.

Despertamos de nosso momento intimista ao ouvirmos a Garrett anunciar que tocaria um cover de I put a spell on you de Screamin' Jay Hawkins mas na versão de Creedence Clearwater Revival. A canção não podia ser mais oportuna, numa versão blues soando tão sensual. E eu cantei para ela baixinho as primeiras estrofes.

I put a spell on you
Because you're mine.
You better stop
The things that you're doing.

Eu coloquei um feitiço em você
Porque você é minha.
E é melhor você parar
Com tudo que você está fazendo.

Bella desce da cadeira, perdendo o equilíbrio por dois segundos, e eu a ajudo segurando-a pela cintura. Automaticamente, minhas mãos acariciam seus quadris voltando a cintura. Ela me puxa pela mão em direção ao meio da pista de dança, apinhada de pessoas. Nos posicionamos bem no meio. Ela está de costas para mim e seu corpo bem próximo do meu. Isso me deixa feliz pois não quero nenhum outro galalau se engraçando com ela. E sinto seu corpo se esfregando no meu. Ela está dançando e rebolando contra o meu corpo. Ela desce rebolando devagar ao som da música e sobre o mais lentamente possível. Ela vai me deixar louco porque o pouco controle que eu tinha antes de quatro doses de whiskey, agora já não tenho mais. Não perto dela. Eu a giro para que fique de frente para mim. Meu corpo colado ao dela. Dançamos juntos agora ao som do blues e com o solo longo da guitarra de Garrett. Não há mais ninguém a nossa volta, somente nós e a banda no palco. Não conseguimos ver mais nada além de nós dois ali. E eu não quero saber o que a imprensa vai fazer, ou o que vão pensar.

[…]

Uma claridade excessiva invade o ambiente e ferem meus olhos quando os abro finalmente. Me sinto perdido.

Não sei quem sou. Quem sou eu mesmo? E minha cabeça parece que foi para a guerra e esqueceu de levar o corpo...Não, meu corpo também foi para a guerra pois estou todo dolorido. Cacetada, onde estou?

Olho a minha volta e não vejo nada além de cortinas brancas e impessoais, cobertor branco. Ah, estou aliviado! Esse é o quarto de hotel em que vivo há quase 1 ano. Olho para o lado e vejo cabelos compridos e castanhos espalhados pelo travesseiro do outro lado da cama.

Jesus, tomara que seja Isabella, tomara que seja Isabella, tomara que seja Isabella...

Estico o pescoço um pouco mais para ver o rosto e é Isabella. Graças a Deus! Mas eu não me lembro de nada. Que coisa injusta! Eu tenho ao meu lado a verdadeira deusa da beleza, corpo e rosto perfeitos e não lembro de nada do que fizemos. Eu cubro meu rosto com as mãos pesando nas manchetes dos jornais de hoje, internet, notícias sobre um jovem ator irlandês que quebrou o bar inteiro onde esteve a noite depois de encher a cara com amigos... será que foi isso o que aconteceu ontem? Pior é não lembrar de ter feito amor com a mulher mais maravilhosa do planeta.

Essas coisas só acontecem comigo...

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Guinness¹ A Guinness é uma cerveja irlandesa cuja história teve início em 1759, quando Arthur Guinness alugou uma fábrica em Dublin, na Irlanda, e começou a produzir sua cerveja. Em 1862 adotou a Harpa irlandesa como símbolo.

O'Donoghue's² o O'Donoghue Pub é um estabelecimento historicamente significativo perto de St. Stephen's Green, no Sul de Dublin. Construído em 1789 como uma mercearia, em 1934, começou a operar em tempo integral como um pub quando comprado pela família O'Donoghue.

Underground³ é uma expressão usada para designar um ambiente cultural que foge dos padrões comerciais, dos modismos e que está fora da mídia. Também conhecido como Cultura Underground ou Movimento Underground, para designar toda produção cultural com estas características, ou Cena Underground, usado para nomear a produção de cultura underground em um determinado período e local.

Screwdriver4 é um coquetel feito à base de suco de laranja e vodca.

2 comentários:

  1. Adooooreei!!! SUAHSUH' Estou acompanhando a Fanfic também pelo TBF!
    Beijos, Ethy

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