segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

S - Capítulo 8

Ao embarcarmos no avião naquela manhã triste de segunda-feira, todos estavam, de certo modo, ensimesmados. Não sei como é possível todos da banda sentirem quase do mesmo jeito, mas foi a impressão que tive. Até Tom, que normalmente era o mais quieto da banda, parecia estar mais quieto ainda. Eu estava com meus pensamentos longe, ainda em Edward e no tempo que ficaríamos separados. O meu lado racional pensava “O que são duas semanas e meia em comparação aos últimos seis meses separados?” Já o meu lado emocional e apaixonado só queria que estivéssemos juntos. Nem que fosse apenas para sentir o calor de seu corpo próximo ao meu.


Eu estava calada. Respondi uma ou duas perguntas que Rick me fez quando passei por sua poltrona rumo ao banheiro do avião. O estranho é que eu me sentia tão cansada...como se só agora meu corpo começasse a sentir os efeitos de toda a agitação do último mês. Já fazia um mês que eu estava nos Estados Unidos. E em mês e meio eu voltaria para a Alemanha. Como ficaria o meu namoro com Edward com toda essa distância entre nós? Teríamos que falar sobre isso em breve. Eu havia prometido que conversaríamos sobre tudo antes de tomarmos decisões sobre o nosso relacionamento.

A única coisa que estava me deixando mais alegre era saber que eu encontraria Alice esperando por nós no aeroporto. Ficaríamos todos no mesmo hotel. Não era bem um hotel e sim um hostel, um albergue. Nós pagamos pelas camas, e eu nem fiz questão de conforto. Seriam quatro beliches no mesmo quarto e no mesmo corredor mas num quarto com cama de casal, ficariam Alice e Jasper que fizeram questão de pagar um pouco mais. E por isso tínhamos um banheiro para nós, um grupo de dez pessoas juntando a banda de Jasper e a minha. Afinal, todos nós estávamos na mesma situação e Ben ainda estava pior porque ele e sua mulher, Ângela, agora tinham que se preocupar com a chegada do bebê enquanto se formavam em seus mestrados. Não sei como Ângela está se virando com os quase nove meses de gestação e todos os seminários que ela tem que montar antes de se apresentar para a banca de avaliação. Eu a ajudei bastante nos últimos seis meses, mas, mesmo assim, pude ver o quão difícil é acompanhar as aulas de orientação e trabalhar no documento final sentindo a dificuldade de uma gravidez avançada.

Foi com esse pensamento em mente que desembarquei em Nova York. E ainda distraída, não notei quando Alice veio me abraçar. Tomei um susto ainda maior quando vi Jasper logo atrás dela. Esses dois são um caso engraçado, pois começaram como amigos, cada um vindo de um país e culturas totalmente diferentes. Ficaram quase quatro meses até perceberem que os dois nutriam algo além de amizade um pelo outro.

— Bella? Você não me viu, não? — Alice estava com as mãos no quadril num gesto de deliberada indignação. E então eu vi. Os cabelos de Alice antes num comprimento médio, agora estavam num corte chanel, maiores em seu queixo de um lado e do outro nada. Raspado de forma que podemos ver a sombra de seu couro cabeludo. Um verdadeiro Sidecut. Ela nunca usou os cabelos divididos de lado como agora.

— Oh, meu bom Deus! O que você fez nos seus cabelos, sua louca! — eu ainda não estava acreditando que ela tinha abrido mão dos cabelos perfeitamente ondulados e retos, num castanho médio sem química alguma para de repente, surgir com um corte tão revolucionário. E então eu notei Jasper abrindo um largo sorriso ao lado de minha amiga. Seus cabelos que batiam antes cacheados e loiros no pescoço, agora estava presos por um rabo de cavalo alto, fazendo um coque, mas ele sim tinha um corte Undercut, que vinham raspados de têmpora a têmpora. — Oh, Jasper, você também? — eu estava incrédula. Eles sorriram ainda mais diante da minha perplexidade. — Alguém pode me explicar o que aconteceu com vocês?

— Então você vai ter me contar sobre o seu misterioso namorado novo também, querida... — Jasper disse sorrindo ao me provocar descaradamente.

— Vocês o conhecerão em Seattle. — Alice me deu uma leve piscadela mas Jasper não percebeu ou pelo menos fingiu que não viu. — E então vão me contar sobre seus novos penteados ou não?

— Alice perdeu uma partida deNeed for Speed¹ e como tinha dito que se perdesse cortaria o cabelo num modelo que eu escolhesse, então ela cumpriu a promessa. — Jasper disse olhando para a namorada com um sorriso debochado nos lábios. E Alice fez um beicinho ao olhar para os próprios pés envergonhada.

— Tá, mas isso não explica o seu corte de cabelo. — eu disse cruzando os braços já irritada com o jeito petulante de Jasper. Afinal, Alice era a melhor jogadora de Need for Speed que eu conhecia.

— Eu quis ser solidário com a minha pombinha aqui. — Jasper disse pegando de leve no queixo de Alice, a puxando para mais perto beijando seus lábios suavemente. Então a virou de costas para ele e a abraçou por trás.

— É mentira, Bella! Ele gostou tanto do resultado do meu corte que quis fazer também. decidindo no último momento radicalizar ainda mais.

Jasper riu com gosto, de uma maneira bem debochada que só ele sabia fazer.

— E eu ainda pensei em tingir algumas mexas de azul. — Jasper disse olhando para Alice que lhe deu um tapa no ombro, se libertando de seus braços e ele riu mais ainda.

— Então, eu teria que mudar o seu apelido de cachinhos para punkito². — eu disse.

Alice riu e Jasper também. Todos rimos. Ben chegou com suas malas finalmente, seguido dos outros rapazes da banda. Todos se abraçaram e se cumprimentaram. Fomos todos para o albergue, como Jasper gostava de dizer.

O recepcionista, Jonas, um rapaz moreno e simpático, fez um pequeno tour conosco para mostrar a área de lazer comum, que tinha uma mesa de sinuca, uma outra de totó, mesas para os laptops, mesas com desktops, sofás e uma entrada para outra sala onde estavam uma TV de plasma grande e vários sofás distribuídos de maneira que todos pudessem assistir. As áreas de lazer do hostel obrigavam o convívio entre os viajantes que por ali passassem.

Na primiera noite, apesar de cansada, eu acompanhei o nosso grupo, liderados por Jasper, por um passeio pela cidade. O nosso hostel estava localizado na Astoria Boulevard, e á 5 minutos do metrô. Era uma curiosidade da maioria no nosso grupo usar o sistema de metrô e andar sem rumo, perdidos pelas ruas de Nova York.

Paramos em um bar comum, daqueles que ficam no porão de um prédio antigo. Para sentarmos todos em uma mesa foi um sacrifício, pois o bar tinha somente mesa para quatro, as mesas de canto com bancos de canto não cabiam 10 pessoas e o espaço lá dentro era um pouco apertado. Acabamos todos sentados apertados em dez cadeiras para uma mesa de quatro lugares. Quando Alice escolheu para mim um screwdriver, eu agradeci silenciosamente. Porém quando meu drink chegou, foi só eu dar uma pequena bebericada para me sentir completamente enjoada. Não sei se porque estava muito doce, ou se era algo com a vodca, afinal, eu não tinha bebido mais nada com vodca desde o porre onde acordei ao lado de Edward sem me lembrar de quase nada até hoje. Disfarcei e deixei o drink em cima da mesa, esquentando até derreter todas as pedras de gelo.

No dia seguinte, fui até o quarto de Alice para conversarmos pois não tínhamos conversado quase nada na noite anterior porque alguns rapazes beberam muito e estavam um tanto exaltados. Nos separamos quando alguns dos rapazes queriam ver shows de Stripers e Jasper, Alice, Ben e eu resolvemos voltar para o hostel.

Sentei-me na cama de Alice, mas logo fui deitando e pegando uma almofada confortável para colocar sob minha cabeça. Alice me olhou de forma estranha, pois estava andando de um lado para o outro do quarto ardendo em curiosidade. Seu entusiasmo só conseguia me fazer sentir mais cansada.

— Nossa, Bella, você parece tão cansada ultimamente... sempre foi de acordar cedo mesmo aos domingos e agora, toda vez que te vejo ou está deitada ou dormindo. Está tudo bem contigo? Tem se alimentado direito? — Alice se aproximou de mim, se sentando na beirada da cama e olhando bem para mim, como que para se certificar que eu realmente estava bem.

— Eu tenho comido maravilhosamente bem por todo o tempo que estive em L.A. Ainda mais quando Edward se mudou para o apartamento de Rose e eu cozinhava quase todos os dias. E para mim, é um prazer cozinhar e comer bem, Alice, você sabe disso.

— É só que você parece cansada, Bella. — ela olhou para mim de um jeito tão doce que quem visse a cena pensaria que éramos parentes. — E que história é essa do seu namorado se mudar para a casa de outra mulher?

— Eles são apenas bons amigos, e Rose namora com Emmett McCarthy. E eu preciso te dizer que em matéria de beleza, Emmett não perde em nada para Edward.

— Eu não sei não. Eu acho que ficaria nervosa se Jasper dividisse o apartamento com uma mulher bonita daquela. — Alice fez um bico ao olhar para as próprias pernas.

— Olha Alice, eu sou uma mulher ciumenta. Mas se eu aceitei namorar com Edward que é ator, eu tenho que me acostumar com isso. Digo, com essa coisa dele viver cercado de mulheres bonitas por onde for. Além do mais, Rose é minha amiga e eu gosto muito dela. Se tivesse que ter rolado alguma coisa entre eles, já tinha rolado. E não agora que Edward tem uma namorada.

— Eu sei que essa pergunta é meio clichê. — Alice me lançou um olhar tímido. — Mas como é namorar um cara assim como Edward? Quero dizer, uma celebridade.

— Ah, Edward é um cara super simples. Não é desses tipos com nariz em pé e que falam o tempo todo de seus trabalhos e como estavam bem em um filme ou outro. Detesto esses tipinhos arrogantes, mas Edward é diferente disso, ele consegue fugir do estereótipo que nós, pessoas comuns, fazemos de celebridades no geral. Ele é espirituoso e sempre tão sintonizado com que as pessoas sentem... E eu acho que logo, logo você vai saber como é isso, pois não vai demorar muito para a banda de Jasper arrumar um contrato com alguma gravadora.

— Ah, Bella... — Alice golpeou minhas pernas com uma pequena almofada que estava por perto. — Só você para ser tão otimista.

— Não é otimismo, é a verdade. Você vai ver!

—Como ele é com você? Ele é carinhoso? — eu apertei mais ainda a pequena almofada que ela tinha tacado em mim contra meu peito ao responder.

— Ele é carinhoso até demais. E é tão carinhoso que me contagiou. Você precisava ter visto Alice, a maneira com que ele me seduziu quando nos reencontramos foi tão envolvente que me senti que como se não houvesse escapatória. E depois daquilo, eu não consegui mais ficar longe. Ele parece ter um imã que sempre me atrai de volta pra ele. Aqueles lábios rosados, seus lindos olhos de cor indefinida e um sorriso de fazer qualquer mulher umedecer a calcinha... — e eu ainda me lembrava do gosto do seu beijo, do gosto de sua pele, as sardas graciosas nas costas e dos pelos macios em seu peito nu. Mas resolvi ocultar essa parte.

— Você tá apaixonada, Bella, isso é fato! — Alice olhou para mim sorrindo um sorriso largo e um olhar travesso me fez sorrir também.

— Sim! Isso eu não posso negar e nem quero.

Duas semanas depois...

Estávamos todos no camarim. Jasper estava dedilhando sua guitarra ainda desplugada. Ben estava organizando os cabos e pedaleiras que ele geralmente usa. Tom estava carregando os pratos de sua bateria até o palco e voltando e com isso suava muito. A minha banda que fará o show de abertura, vai tocar primeiro, ás 23:30, uma hora e meia de show. A banda de Jasper é a atração principal e tocará por duas horas ás 00:40. O legal é Jasper e sua banda já estão se tornando conhecidos e eu nunca tinha estado em uma casa de show tão grande e com tantas pessoas.

Antes de subir no palco, eu recebi uma mensagem de texto de Kate dizendo que ela e Garrett estão na cidade e que vão dar uma passada por aqui depois do show da banda Principal de Garrett. Eu gosto muito de Kate e vê-la me deixaria muito feliz. Não amenizaria a falta que sinto do irmão dela mas me alegraria de uma maneira muito positiva.

Depois do meu show. Fui até o bar encontrar com Kate e Garrett exatamente onde ela disse que estaria na mensagem. Os cumprimentei, pedi um refrigerante para mim e acho que eles nem perceberam pois Kate está animada com a viagem a N.Y e conta detalhe por detalhe de sua estadia na cidade. Eles tinham acado de chegar, direto para o show da banda de Garrett em N.Y e já viajariam no dia seguinte para Houston e depois para a fazenda do mesmo em Louisiana para uma visita e merecido descanso dos dois.

Jasper, num ato de improviso me chamou ao palco para cantar um cover com ele. E me entrega um pandeiro meia-lua. Seria a última música, um cover de “Used to love her” do Guns N’ Roses. A música começou e eu só queria saber de dançar enquanto batia o meu pandeiro com uma das mãos perto do microfone. Jasper se insinuava para mim com sua guitarra brincando um pouco. Vez ou outra dividimos o mesmo microfone. De repente, enquanto estava revezando entre bater o pandeiro nos meus quadris e minhas mãos, sinto uma tontura. Tento não cair e isso ainda não chamou a atenção dos outros. Mas uma segunda onda de tontura mais forte me derrotou e eu cai.

Acordei ouvindo um burburinho que cada vez ficar mais alto e nítido. Antes de abrir os olhos, ouvi Alice choramingando, Kate estava tranquilizando a todos. Eu finalmente abro os olhos devagar. E vi Jasper olhando para mim e percebi que estava deitada em seu colo, com a cabeça em suas coxas. Tentei levantar, mas Jasper me impediu e eu ainda me sentia meio tonta.

— Calma, Bella! Eu vou te ajudar e levantar. — Jasper disse ao passar a mão pela minha testa. Ao levantar ajudada por Jasper, reparei que estamos no sofá de dois lugares meio velho que fica no camarim.

— Bella, o que você bebeu hoje? — Alice perguntou se agachando a minha frente e tocando minhas mãos.

— Só refrigerante, Alice.

— E você comeu alguma coisa? — Jasper perguntou me abraçando carinhosamente.

— Eu... — eu me lembrei que não saí com os outros para comer pizza pois só a ideia da gordura do queijo e as rodelas de calabresa me deixaram um pouco enjoada. — Não! Eu esqueci de jantar.

— Tome isso! — Kate colocou em meu colo um pacote de balas de alcaçuz em formato de tubo. — Sua glicose deve ter caído porque esqueceu de se alimentar. — como eu continuava surpresa por ela carregar um saco grande de alcaçuz na bola, Kate deu de ombros ao falar. — São as preferidas do meu irmão, ele come muitas dessas quando está nervoso e eu esqueci de dar a ele quando cheguei.

Só pela referência a Edward, eu me senti novamente estranha. Como se algo estivesse faltando, e por pura carência dei uma mordida em um tubo de alcaçuz vermelho. Depois de uns minutos de silêncio, o telefone de Kate tocou e ela sem olhar já me entregou. Deve ser Edward.

— Bella, está tudo bem, meu amor? Eu estou preocupado... — o tom voz de Edward está angustiado.

— Eu estou bem sim. Não se preocupe. — Eu me lembro que ele tinha uma entrevista e eu espero que ele não tenha adiado por minha causa. Quando olhei ao redor do camarim, vejo que muitas pessoas já saíram. Acho que queriam me dar privacidade e ao meu lado estão apenas Kate e Alice e Jasper. — E a sua entrevista, Schatz? Você foi?

— Sim. Assim que terminamos, eu peguei o telefone e liguei. Inclusive, eu liguei para seu telefone mas caiu na caixa postal direto. O que houve? Você bebeu hoje?

— Eu tomei um refrigerante, mas esqueci de jantar porque simplesmente eu não senti a mínima fome. — Menti! — Mas assim que eu sair daqui, vou parar em alguma cafeteria 24 horas e pedir algo para comer. Me diz que eu não atrapalhei a sua entrevista?

Eu o ouvi suspirar antes de responder, parecendo mais um suspiro de resignação.

— Pra ser sincero, eu quase não falei nessa entrevista. Rose assumiu tudo quando soube o aconteceu com você. Eu estava…meio que em choque, digamos assim. Eu tinha até preparado uma lista das palavras em português que você tinha me ensinado. — eu o ouvi rir um pouco do outro lado linha antes de ouvi-lo puxar o ar para continuar. — Mas eu confesso que fiquei paralisado com a mensagem que Kate me enviou. Eu...droga, Bella, eu te amo muito! Você não faz ideia...eu pensei que tinha acontecido algo terrível. Isso é horrível, isso de falar coisas tão intensas ao tele…

— Eu também te amo muito. — eu o interrompi percebendo agora que eu estava chorando. Meu rosto deveria estar todo borrado do rímel que escorria com as lágrimas. — Muito, muito mesmo! É tão bom ouvir a sua voz, mesmo que seja pelo telefone. Eu não aguento mais ficar longe de você.

— Eu também não, meu amor! Não se preocupe Bella, eu estou voltando, já estou com tudo pronto e vamos direto para o hotel pegar nossas coisas e o próximo vôo. Eu não vejo a hora de te ver, te beijar até deixá-la sem ar. — ele ficou dois segundos em silêncio. — Você está chorando? — Ele não devia ter perguntado isso porque só então meus soluços ficaram ainda mais fortes. — Não chore, meu amor! Eu… — pude sentir sua voz ficar embargada. — Eu não sei se… — ele abafou bocal de seu telefone com algo, acho que foi com sua mão, mas ainda pude ouvi-lo soluçar também. — Bella, por favor, não se esqueça de comer, não quero te prender aqui por mais tempo. Vá comer! Mas não qualquer porcaria, um chá com um muffin simples já ajuda bastante.

— Tudo bem, você tem razão, meu bem! Meu estômago resolveu dar sinal de vida e está roncando. — eu ri, pois estava mais calma agora e ele riu um pouco comigo. — Eu vou pegar o voo da noite hoje para Seattle, então a gente se vê em dois dias?

— Na verdade em três porque eu ainda vou organizar algumas coisas em Los Angeles, pois tenho duas reuniões com minha agente. Mas em três dias serei totalmente seu.

— Se você me provocar dessa forma, eu juro que vou ser a primeira mulher no planeta a me teletransportar direto para o seu colo. — ele riu e eu soube que eu tinha conseguido dissipar nossa choradeira por hora.

— Se você descobrir como, eu juro que estarei esperando totalmente nu para não perder tempo algum.

— Edward, deixa de ser safado!

— Eu sei que você gosta! — Rimos ambos, mas meu coração se apertou de repente, lembrando que ele ainda estava longe. Meus olhos umedeceram novamente. — Agora é sério, meu amor, vá comer alguma coisa porque aí já está tarde. Não se esqueça que eu te amo e que estou com saudades.

Eu pensei em algo para expressar meus sentimentos, lembrei de trechos de uma citação que gosto muito de um dos meus poetas favoritos, Fernando Pessoa. E a traduzi mentalmente da melhor maneira que pude.

— Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo? — do outro lado da linha, Edward estava mudo, e eu percebi que o deixei confuso. — É Fernando Pessoa, um poeta português que eu gosto muito.

— Hummm… eu achei lindo, lindo como você. Tchau meu amor, até quarta então!

— Tchau, Schatz!

E eu comecei novamente a chorar depois que ele desligou. Eu não sei o que estava acontecendo exatamente comigo, mas tinha me tornado uma verdadeira chorona nos últimos dias. E como me sentia cansada…como se tivesse lutado em uma batalha medieval. Fiquei ali, com o telefone de Kate em uma de minhas mãos que estavam estendidas sobre minha perna. E eu não conseguia me controlar. Não conseguia parar de chorar.

Pare de chorar, Isabella, pare agora!

Mesmo eu me encorajando a parar, eu não conseguia. Nunca chorei tanto em minha vida, nem pelo meu ex.

Seria saudades dos meus pais, do meu irmão caçula ou do meu ateliê em Niterói?

Eu ouvi a porta do camarim ser aberta, e ao olhar para cima, vi Jasper se aproximando e sentado ao meu lado. E eu nem tinha percebido que eles tinham saído. Abraçou-me apertado. E eu retribuí ainda chorando, logo sinalizei para Alice se aproximar também quando a vi parada com cara de choro.

— Abraço triplo! — eu disse entre risos e choro.

[...]

Acordei com Alice me sacudindo, eram quase seis da tarde, e eu nem acreditei que tivesse dormido quinze horas inteiras. E eu me sentia ainda tão cansada.

— Bella, pelo amor de Deus, essa é terceira vez que venho te acordar. Temos que ir para o aeroporto, esqueceu? Eu não sei o que está acontecendo com você. Está dormindo mais que a cama. — eu resolvi abrir os olhos totalmente. Quase dei um pulo quando me lembrei de que minha mochila não estava devidamente arrumada. A minha mala grande tinha sido deixada no apartamento de Edward a seu pedido, e eu tinha trazido comigo apenas a minha mochila velha de guerra.

[...]

Eu tinha chegado a casa da minha avó Marie bem tarde, nós pegamos o voo das 21:30 e chegamos em Seattle quase uma da manhã. Alice e Jasper tinham me deixado de táxi em frente a casa de minha avó. Sua casa ficava em um condomínio aberto, no bairro Capitol Hill. As casas tinham todas os mesmo estilos e cores. Todas elas tinham as madeira de suas paredes externas pintadas de cinza e os detalhes das janelas e colunas pintados de brancos assim como as cercas baixas que separavam umas casas das outras. A casa da vó Marie tem três andares contando com um sótão que meu avô transformou em um quarto grande para o meu pai e que era onde eu dormia quando vinha para cá. Todas as casas do condomínio tinham um estilo vitoriano mas a da minha vó era a única com porta pintada de um vermelho vivo.


Assim era a minha avó Marie, sempre se destacando de alguma maneira. Ela nunca queria ser como os outros, sempre tinha um pensamento original para chocar ou conquistar admiradores. E quando jovem, ela se parecia comigo, ou poderia dizer, eu me pareço com ela quando jovem. Seus cabelos castanhos e longos até os meios das costas e sua pele entre um caramelo profundo e canela, lhe davam um tom exótico. Quase o mesmo tom de pele que o meu, um pouco mais escuro. Eu sou mais clara por causa da minha mãe que é loira e meu pai que também não puxou a mesma cor de sua mãe, ficando mais como meu falecido avô, Julian. Não é à toa que meu nome do meio é Marie, pois meu pai sempre me achou parecida com minha avó tanto na aparência quanto na personalidade. Minha avó conservava os cabelos longos e cheios de camadas até hoje, mesmo que agora bem grisalhos. Ela adora viajar, só diminuiu o ritmo mas sempre que pode viaja para visitar meus pais no Rio de Janeiro.

Quando vó Marie abriu a porta para mim, foi logo me dando um abraço apertado, me puxando para dentro de casa. Ao fechar a porta, minha avó acariciava meu rosto e seus olhos pareciam examinar os mínimos detalhes. Eu sorria para ela, mas logo detectei uma expressão estranha em seu rosto e logo vi uma de suas sobrancelhas levantar. Se eu a conhecia bem, ela estava desconfiada de algo.

— O que foi vovó? A senhora está me olhando de uma forma estranha…

— Já disse que senhora está no céu. — ela sorria de forma enigmática antes de prosseguir. — É que você parece diferente… um namorado, talvez? Pois com certeza deve ter alguém metido nessa história.

— Sim, vovó! Eu te disse que estou namorando. O nome dele é Edward, se lembra? — Minha avó sempre teve boa memória, e o fato dela ainda estar me olhando estranho, me deixava intrigada.

— E ele é de confiança? Digo, é alguém com quem se possa contar se algo inesperado acontecer? — Algo inesperado? Eu, hein? O que ela queria dizer com isso?

— Eu acho que sim. Acho não, tenho certeza. — ela ainda me olhava com uma expressão de descrença. — Eu resolvi confiar nele e ele em mim. Afinal, todos sabem que eu não tenho raízes e ele é ator, por isso, confiança é a ordem do dia nesse relacionamento.

— Tenho certeza que sim! — disse ela pegando minha mochila e carregando escada a cima. Quando eu fiz menção de impedir, ela se esquivou. — Ah, Bella, por favor! Não sou feita de manteiga, posso muito bem carregar uma mochila. Venha, você deve estar cansada e é melhor ir dormir. Temos o dia de amanhã inteiro para colocar o papo em dia.

E eu fiz exatamente como ela disse. Passamos pelo andar onde ficar sua suíte e depois de mais lance de escada, estávamos no quarto do meu pai e que agora exibia paredes completamente brancas, bem diferente do papel de parede azul que esteve lá por longos anos. Eu apenas tirei o sapatos, dei beijo em seu rosto de deitei. E foi quando apaguei totalmente. Sorte minha que eu vestia legging.

Acordei e notei que alguém tinha puxado o blackout da janela acima da minha cama. Porém tomei um susto quando percebi, olhando para relógio do criado-mudo, que já eram quase cinco da tarde. Quatro e quarenta para ser mais exata.

Meu Deus! Eu não dormi, eu desmaiei…

Mas eu ainda me sentia tonta e cansada. Eu acho que nem se eu dormisse cem anos, eu não descansaria. Meu corpo parece ter sido moído. Uma cólica chata desde quando deixamos Nova York. Minha menstruação deve estar pra chegar e por isso minhas calças jeans estão me incomodando tanto, pois estão um pouco apertadas.

Olhei para mim mesma e ainda estava vestindo minha camiseta da banda Pearl Jam e a legging preta com que viajei ontem. Eu ainda estava decidindo se ia me levantar ou não, quando o som do WhatsApp soou no meu telefone. Era Alice perguntando se eu já tinha acordado e se Jasper e ela podiam passar por aqui. Eu respondi que eles podiam passar pois tinha acado de acordar. Como estava com o celular na mão, joguei o nome de Edward no google do navegador do meu telefone, pois a imprensa acompanhava quase todos os seus passos, se não diretamente, pelo menos por fotos tiradas em celulares de fãs. O primeiro resultado foi de um site mantido por seu fan-clube, onde as fotos de suas aparições pelo mundo apareciam na galeria de fotos. E lá eu o vi. Alguém tinha tirado fotos suas saindo do LAX³. Só assim para matar saudades. Olhei bem para sua foto, boné com o símbolo dos Rolling Stones, óculos de sol Ray-Ban aviador, cabeça baixa, olhando para os próprios pés, mas sorrindo, mesmo que timidamente.

Oh, Deus! Eu estou com tantas saudades…

Quando desci as escadas sem nem mesmo me importar o quão descabelada eu estava, minha avó não se encontrava na sala. A sala era ampla e nela havia três ambientes conjugados, sala de estar, jantar e cozinha. Ontem a noite, eu reparei que vovó tinha pintado as paredes num tom de verde-claro, casando com outras num tom de amarelo quase próximo do verde-claro. Á noite, parecia não ter sido boa ideia, mas agora durante o sol da tarde, ficou realmente lindo e relaxante de se olhar.

Achei um bilhete na porta da geladeira. Tinha bolo de laranja no forno e café na garrafa térmica. Eu preferi puxar um dos bancos brancos e altos na frente da bancada e me sentar lá para comer porque seria mais prático de limpar. Mal dei duas garfadas no pedaço de bolo e ouvi a porta da frente abrir com minha vó entrando, carregando suas compras num saco de papel pardo, seguida de Jasper e Alice. Eles estavam falando. Verdade seja dita, somente Alice falava sem falar numa mistura de empolgação e nervosismo.

Assim que entraram todos, Alice me abraçou, depois Jasper enquanto minha vó foi para a pia depositar o saco de papel sobre bancada de granito. Ela ia guardando as coisas e Alice me enchia de perguntas.

— Bella, mas que cara amassada é essa? Parece aquelas pessoas que dormiram no ônibus!

—Alice! — Jasper a repreendeu bastante sério. Tem momentos que nem ele aguentava a espontaneidade de Alice.

— Foram umas quinze horas. Ela bateu o meu record de quando eu tinha uns 14 anos e dormia como se não houvesse amanhã. — Vó Marie disse com um sorriso de deboche nos lábios. Alice riu e Jasper riu mais ainda.

— Até parece que vocês dois não dormiram quase o mesmo tanto que eu. — eu disse empurrando Alice pelo ombro de leve.

— Nós acordamos ás 10:00 em ponto pois queríamos aproveitar o bom tempo por aqui, já que dias bonitos assim são raros. — Jasper disse.

— Por isso viemos aqui para ver se você aceitava passear com a gente. — Alice disse de forma sedutora.

— Ai Alice, desculpe, mas acordei com uma cólica chata e não estou com muita disposição para andar, não. Tenho medo de forçar demais e depois ela só piorar. Vocês precisam me desculpar.

— Com certeza! Para cólicas como essas, o melhor mesmo é deitar e descansar. — vó Marie disse ainda de costa para nós, lavando alguns legumes que estava separando para o jantar. Ela parecia alheia ao que conversávamos mas estava mais atenta do que eu imaginei. Alice olhou para mim com uma de suas sobrancelhas arqueadas e eu soube que ela também tinha achado estranho o termo “cólicas como essas”, usado pela minha avó.

Eu mal me despedi de Jasper a Alice e me joguei na cama como se tivesse feito um esforço fora do comum. Dormi novamente com as mesmas roupas que usava ao acordar á tarde. Fui despertada pela minha avó me chamando para jantar. Só então percebi o cheiro bom que vinha da do primeiro andar e meu estômago roncou tão alto que eu fiquei com vergonhar de olhar para minha avó.

Ela tinha feito bife com batatas fritas e dois ovos fritos com a gema mole por cima do bife. Eu nem pensei duas vezes e ataquei meu prato e só reparei que minha vó me olhava espantada quando eu já estava quase terminando de comer.

— Bella, você não pode se esquecer de comer. Senão, sua pressão pode cair e você vai desmaiar. — vovó comia devagar, cortando seu bife de forma cuidadosa.

— Mas eu nunca tive problemas de pressão antes… — eu disse antes de tomar um longo gole num enorme suco de uva que ela tinha posto para mim.

— Porém não custa ser cuidadosa, não é mesmo? — ela deu uma piscada para mim. — Sabe, eu adorei esses seus amigos. Eles formam um lindo casal. Eu amei o sotaque britânico de sua amiga Alice e o sotaque dela faz um ótimo contraste com o sotaque do namorado. Ele tem um sotaque texano carregado que me lembrou muito o do seu avô Julian, que Deus o tenha. — ela fez o sinal da cruz beijando o dedão no fim. — Ele era alto e loiro como Jasper também. — vovó disse com um ar sonhador.

— Mas fala alemão melhor do que ela e eu juntas. Jasper vai se formar maestro no fim do ano. É um músico brilhante. Sabe, eu não entendo essa coisa que vocês tem com sotaque.

— Vocês quem, cara pálida? — vovó disse com uma seriedade fingida e eu tive que rir.

— Alice, Kate e você… — vovó parecia confusa e eu expliquei — Kate é a irmã de Edward e ela é fascinada com o sotaque sulista do namorado mas ela não percebe que o sotaque irlandês dela também deve intrigá-lo. Todos nós temos sotaque, tanto que para Alice, somos nós quem temos sotaque. Sotaque é um conceito relativo…

— E você sempre racionalizando. — ela sorriu para mim, e eu senti que o que parecia uma crítica era mesmo uma demostração de orgulho. — Então seu namorado é irlandês?

— Sim. — eu tenho certeza que meus olhos brilharam por me lembrar dele. — E ele é lindo, vó, e não é só por fora, não, ele é lindo por dentro também. Ele é tão doce e romântico, tão carinhoso...ele praticamente me ensinou a ser mais carinhosa também. Me ensinou a demonstrar minhas emoções. E você me conhece melhor do que ninguém, vovó. Eu costumava a ser tão cautelosa com as pessoas…

— Se você diz, eu acredito! Mas quero dar uma boa olhada nele, pois os apaixonados enxergam com os olhos embaçados.

Eu apenas sorri com essa última frase da minha avó. Quando fui para meu quarto, liguei meu laptop sobre a cama mesmo. Estava esperando que pelo menos Edward estivesse no Skype. Ainda não entendo porque ele ligou para o celular da irmã e não para o meu quando ainda estávamos em N.Y. Enquanto o esperava entrar, naveguei pela internet buscando novas aparições suas. Com Edward, eu nunca precisaria contratar um serviço de detetives porque tanto pessoas comuns quanto paparazzis já faziam um ótimo trabalho.

E lá estavam fotos dele em um restaurante almoçando com uma moça morena cujo as fotos não deixam saber a identidade nitidamente. Na legenda da foto dizia: Edward Cullen e Siobhan Doherty.

Siobhan Doherty? Onde será que eu já ouvi esse nome?

Em uma rápida busca no google, descobri que era cantora de uma banda de pop/rock irlandesa e tocava flauta e outros instrumentos de sopro. Em suas fotos, ela me lembrava um pouco a atriz Liv Tayler. Engraçado, mas Edward nunca mencionou ser amigo dela. Para dizer a verdade, eu quase não sabia quais eram as conexões dele no mundo artístico. Mas vê-lo naquelas fotos, almoçando com essa mulher como se fossem íntimos me fez sentir um ciúme para o qual eu não estava preparada. Acho que não é boa ideia eu ficar fazendo buscas sobre ele no google, afinal a imprensa sensacionalista adoram inventar notícias também. Resolvi não me prender muito nessas imagens, pois com certeza, deveria ser um encontro relacionado a projetos profissionais. Então, deixei uma mensagem de vídeo no Skype antes de desligar o laptop e apagar completamente.

Acordei mais cedo na manhã seguinte, feliz por pelo menos dessa vez, conseguir vislumbrar a manhã ensolarada. Porém, meu estômago é que não acordou com o mesmo bom humor do resto do meu corpo. Me sentia enjoada e eu nem tinha tomado água ainda. Tomei meu banho, esperando o enjoo passar. O banho ajudou um pouco, mas tive que usar sabonete neutro sem cheiro. Quando desci finalmente, eram 09:30 da manhã e minha vó estava sentada á mesa tomando um chá e lendo o jornal.

— Bom dia, vovó! — Passei por ela e fui direto para a geladeira. Servi um copo de suco de laranja para mim e voltei para perto de minha vó puxando uma cadeira perto próxima a ela.

— Que bom que hoje você acordou mais cedo. Sinal de que dormiu bem! — ela falou sorrindo para mim e depois voltando para seu jornal. — Isabella não…

Eu tomei um longo gole do suco, antes de perceber que minha vó tentava me impedir de beber. Mas já era tarde, pois na mesma hora que o suco desceu por minha garganta, o cheiro me embrulhou o estômago, o que me fez levantar e correr imediatamente para o banheiro, que por sorte estava bem próximo dali. Não sei de onde saia tanta coisa pois eu só tinha tomado um gole de suco. Um suco muito doce, diga-se de passagem. Fiquei ainda uns 5 minutos apenas apoiada de cabeça baixa na tampa da privada esperando sair alguma coisa mais. Eu tinha ouvido o meu celular tocar em algum momento, e concluí que minha vó não veio atrás de mim porque teve que atendê-lo. Logo ela entrou no banheiro e me viu deitada com o rosto no chão de cerâmica fria, que estranhamente me acalmava e eu podia pensar com clareza novamente.

— Era sua amiga Alice dizendo que ia passar aqui, sozinha, pois seu namorado estava ensaiando com a banda dele. E eu tomei a liberdade de pedir a ela para trazer um teste de gravidez.

— O quê? — eu me levante no mesmo instante que ouvi o que minha avó disse e a encarei.

— Sério que você nem desconfiava, Isabella?

Antes que eu pudesse responder uma nova onda de náusea se apoderou de mim e eu engatinhei até a privada novamente, despejando tudo o que tinha sobrado em meu estômago. Até mesmo o bolinho que comi em Nova York, eu acho. Senti a mão da minha avó acariciando minhas costas e impedindo meus cabelos de caírem todo sobre o meu rosto.

[...]

Eu estava sentada sobre a tampa da privada esperando o resultado do teste enquanto Alice andava de um lado para o outro, fervendo em ansiedade.

— Olhe novamente! Já se passaram os dois minutos e como esse é um teste com visor digital é o mais rápido.

Olhei para o pequeno visor. “Grávida. 5 semanas”, estava escrito nele. Entreguei a Alice para que ela mesma visse. Eu estava tremendo. Meus pensamentos davam voltas e voltas.

Como assim “5 semanas”? Como eu não percebi antes? Edward sempre usou preservativos… Ah, Cristo! Aquela vez no camarim quando nos reencontramos. Justo a vez em que eu não lembrava de nada, a vez que eu não pude me controlar, totalmente abandonada à minha própria sorte.

Eu vi a dificuldade que Angela teve e tem ao estudar como bolsista em outro país e só não é mais difícil porque seu marido está ao seu lado. Eu escolhi essa vida totalmente independente e errante, sem muitos planos. É claro que mais cedo ou mais tarde a vida faria planos por mim. Como diz o ditato “Uma andorinha só, não faz verão”. Edward é metade responsável também. Basta saber se essa andorinha vai querer ficar ou não.

Acho que fiz tudo no automático, mal ouvindo o que Alice dizia. Deitei na minha cama que agora parecia tão macia e tão convidativa. Fechei os olhos. Eu não sei se sou forte o suficiente para levar a vida dessa maneira, sendo mãe solteira, vivendo em um país que não é o meu e ambicionando um doutorado assim que eu terminar meu mestrado. A minha sorte é que esse mestrado está no final. É claro que eu estou pensando na possibilidade de Edward surtar e sumir. E agora eu entendo todas as indiretas da minha vó. Ela está preocupada que ele seja alguém com quem eu posso contar. Como ela sabia que eu estava grávida só de olhar para mim?

Talvez eu nunca contasse para Edward. Eu ainda tinha a opção de voltar para Alemanha sem dizer nenhuma palavra. Ganhar tempo. Ou talvez eu não levasse a gravidez adiante. Talvez eu…

— Bella, você está me ouvindo? — Alice sacudiu a cama ao se sentar e eu despertei de meus devaneios.

— Desculpe, Alice, o que disse? — eu continei deitada mas estiquei um pouco o pescoço para que pudesse olhá-la mesmo com a cabeça sobre o travesseiro.

— Você vai contar ao Edward? O que pensa em fazer? Por favor não me diga que está pensando em tirar…

Então eu contei a ela tudo que eu estive pensando enquanto me perdi em divagações e parei de escutá-la. A boca de Alice foi ficando cada vez mais aberta. Porém ela não disse nada. Quem falou foi minha avó que vinha subindo as escadas até o quarto tão silenciosamente que eu nem tinha ouvido ela chegar.

— Isabella, você é minha neta e por vezes ás pessoas sempre nos acharam bem parecidas. Agora, até nossas histórias se entrelaçam. Uma história que se repete. — Alice e eu agora estávamos atentas. — Quando eu engravidei, a família do seu avô foi totalmente contra nosso relacionamento. E eu estava até disposta a criar o seu pai sozinha, em nenhum momento eu pensei em não passar pelo que passei. Peguei minhas economias que juntei durante anos trabalhando em uma madeireira e pensei em comprar um pequeno apartamento mais afastado do centro. Mas seu avô sendo ainda mais teimoso que eu, enfrentou a família e veio embora de vez para Seattle, tendo em vista que ficaria por conta própria comigo e seu pai. Compramos essa casa e eu te digo que não me arrependo nem um pouco das decisões que eu tomei. Lamento somente pela relação de seu falecido avô com a família que nunca mais foi a mesma. Eles tinham problemas com a cor da minha pele e da minha descendência indígena/mexicana. Por causa disso deixaram de conhecer Charlie. Então, meu bem, você deve contar para seu namorado que ele vai ser pai. Ele deve saber e o quanto antes soubermos sua opinião sobre isso mais tempo teremos para nos prepararmos para essa gravidez. Os tempos são outros e ele é a outra metade responsável por essa criança. Se ele não quiser assumir, a justiça tá aí pra isso e não vai ser o fim do mundo. Eu vou te ajudar no que puder.

[...]

Quando eu vi Edward caminhando pelo portão de desembarque naquela manhã de quarta-feira, meu coração disparou parecendo querer pular do meu peito. Senti o mesmo frio no estômago que eu tinha quando o vi depois de tanto tempo. Corri para ele, e beijei sua boca com sofreguidão. Toda a saudade e felicidade por vê-lo ali, bem na minha frente, sugiram fortes de uma vez só. Me esqueci que estava em um espaço público e acho que ele também, pois suas mãos passeavam por meu corpo livremente por conta do vestido estilo cigano de tecido leve que estava vestindo. Senti quando uma de suas mãos apertaram a minha bunda levemente por cima do tecido enquanto a outra estava entre os meus cabelos.

Então ele falou contra meus lábios ainda arfante depois do beijo.

— Preciso de você agora, Bella. Eu quero matar a saudade que quase me matou. Vem cá, meu amor! — ele me puxou para mais um beijo que dessa vez foi mais terno e tranquilo.

Resolvemos ir para o seu hotel deixar suas coisas. Mas, enquanto ainda estávamos no quarto, Edward me surpreendeu ao me jogar na cama me beijando de forma ardente, eu quase não tive como reagir além da paixão que ambos sentíamos. Suas mãos subiram meu vestido até meus seios e logo passaram por meus braços sendo lançados ao pé da cama. Não sei como, mas ele também não estava usando camisa. Sem parar me beijar suas mãos desceram fazendo pequenos círculos em minha barrida, depois apertando minhas coxas, e logo sua mão adentrou minha calcinha e seus dedos foram direto entre minha fenda já muito molhada. Arqueei meu corpo com o prazer que seus dedos proporcionavam ao alternarem entre massagear meu clitóris e estocar dentro de mim com rapidez. Eu gemia alto e de olhos fechados. Sua boca estava agora em meus seios. Eu gemi, pois era prazeroso mas um pouco dolorido. Meus mamilos estavam sensíveis.

— Ah minha Bella, eu senti saudades de ouvir esses gemidos.

— E eu...eu… senti sau...dades dos seus beijos… — eu arfava sentindo cada vez mais meu orgasmo chegando.

Quando meu orgasmo explodiu em todo o meu corpo me fazendo estremecer, Edward abriu minhas pernas ainda mais, sem nenhuma cerimônia, e se posicionou entre elas, pairando sobre mim, apoiando-se sobre seus braços, seu corpo ainda sim, perto do meu de maneira que nossa pele se tocasse levemente. E nossas peles estavam molhadas, com uma leve camada de suor sobre elas. Ele me penetrou bem devagar, definindo um ritmo lento mal parecendo se mover. Ele sussurrava meu nome e diz que me amava entre beijos. Nos declarávamos um ao outro aos sussurros. Seus movimentos não eram selvagens, eram cuidadosos e muito carinhosos. Logo, dessa maneira lenta, eu tive um orgasmo. Algo que eu nunca tive antes. Não foi tão intenso quanto o anterior, mas eu me senti flutuando. E então Edward se derramou dentro de mim e foi minha vez de beijá-lo desesperadamente.

Eu queria contar que eu estava grávida, mas acabei perdendo a coragem assim que olhei naqueles olhos verdes acinzentados.

[...]

Fomos almoçar com a minha avó. Ela foi cordial mas Edward sentiu que ela o avaliava, pois me disse enquanto minha vó tinha saído rapidamente para lavar as mãos, porém não sabia o por quê. Por outro lado, minha vó e eu sabíamos muito bem. Quando ela olhava para mim, eu podia jurar que ela me perguntava, através de seus olhos, a razão dele não saber ainda. E eu comecei a me sentir um pouco pressionada, porque de um lado estava Edward me dizendo vez ou outra que eu parecia estranha, distraída e do outro, minha avó e Alice dizendo que eu deveria contar.

Na quinta- feira, Edward e eu saímos com Jasper, Alice e Ben para jogarmos sinuca. Eu pedi um refrigerante e Edward arqueou uma de suas sobrancelhas curioso mas nada disse. Eu mostrei as chaves do carro e ele pareceu entender que eu seria a motorista hoje e nos próximos dias. O velho fusca verde de minha vó, que foi do meu pai por um tempo antes de ir para a faculdade. Algumas poucas tiravam foto nossas discretamente, na verdade, fotos de Edward. Para todos os efeitos, ele estava apenas se divertindo com os amigos. Enquanto eu tentava uma jogada, alguém passou e jogou fumaça de cigarro na minha cara. E então eu senti o cheiro de whiskey e vodca no ambiente ao meu redor. Foi o suficiente para eu lagar o taco em cima da mesa e correr para o banheiro feminino que por sorte estava sem ninguém. Vomitei todo o refrigerante que eu tinha consumido, junto com a pizza que vovó assou para nós. Lavei minha boca e ainda me sentia fraca quando saí do banheiro. Tive que recostar na parede do corredor dos banheiros para me acalmar. Edward se aproximou de mim, colocou uma de suas mãos na minha testa e disse preocupado.

— Bella, você tá gelada! Vem, vamos embora! Eu nem cheguei a beber minha cerveja, por isso acho que dá pra dirigir.

Fomos caminhando para fora do bar, seguidos por Alice, que sabia do que se tratava. Felizmente ela não disse nada que me entregasse. Entramos no carro depois da explicação pobre de Edward sobre eu passar mal.

Que ideia de jerico! Ir ao um bar com cheiro de fumaça e cheiro de álcool no ar… lógico que eu passaria mal!

Chegando a casa da vó Marie, saímos do carro em silêncio e caminhamos para dentro de casa. Eu tensa por saber que eu teria que contar a ele e o momento era agora. E ele sentindo minha tensão.

Será que ele faz ideia que eu espero um filho dele? Não, acho que não!

Constatei ao olhar para ele e vê-lo com uma expressão confusa e preocupada. Passamos por minha avó que assistia TV na sala, a cumprimentamos rapidamente e subimos para meu quarto. Quando cheguei lá, tirei meus tênis rapidamente e me sentei na cama massageando meus pés. Como foi bom me livrar daquela porcaria apertada. Edward sentou-se ao meu lado na cama e passou a mão pelos cabelos repetidamente. E eu sabia que ele estava preocupado. De repente, ele se levantou ficando de frente para mim.

— Bella, você vai me dizer o que está acontecendo ou não?

— O que você quer dizer exatamente? — eu não tive coragem de encará-lo. Fiquei olhando para meus próprios pés ao invés disso.

— Você desmaiou em N.Y e disse que é porque esqueceu de comer. Qual é Bella? Eu sei que você gosta de comer e nunca pularia refeições assim do nada. Quando eu chego aqui, você parece abatida. Parece cansada todo o tempo. E está estranha, meio distraída, tanto está, que tive que chamar sua atenção várias vezes enquanto conversávamos. A sua avó me olha de um jeito estranho. Você está me escondendo alguma coisa, eu sei que está. Você passou mal no bar hoje. Pode ser que você tenha pego alguma virose, o que não é nada incomum. Ou você está gripada, ou... — ele tocou meu queixo fazendo com que eu olhasse para cima e o encarasse. — ...Você quer terminar comigo, é isso?

— Terminar com você? — agora quem estava confusa era eu. E ainda mais nervosa ao ver que Edward agora andava de um lado a outro alisando os cabelos freneticamente. Puxei-o pela barra da camisa para que ele voltasse a posição de antes. — Não! De onde você tirou esse absurdo?

— Ponha-se no meu lugar só um pouquinho. Eu fico duas semanas sem ver minha namorada por quem eu sou completamente apaixonado. Antes de vir para cá, abri uma mensagem no Skype onde você está visivelmente abatida e estranha. Quando te encontro no aeroporto, você está radiante mas ainda abatida. Quando fizemos amor, você parecia a mesma de antes mas logo depois ficou um pouco distante e pensativa. Parecia que sempre queria me dizer algo mas mudava de ideia por razões que eu desconheço. Eu não sei mais o que pensar, Bella!

— Tem certeza que não te ocorre mais nada? — eu estava incrédula com o fato dele ser tão perspicaz para sentir o que estava nas entrelinhas e não perceber o que era tão óbvio. Se eu quiser ser sincera comigo mesma, nem eu percebi o óbvio até ontem. Eu olhava para ele esperando que a ficha caísse mas ele balançou a cabeça negando.

Lá vai! Agora é a hora…

— Edward, eu estou grávida!

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