sábado, 30 de janeiro de 2016

ELS Cap 37

Capítulo 37 – Do Pó Ao Pó, Mas Antes...

Look into my eyes
You will see, what you mean to me
Search your heart, search your soul
And when you find me there, you'll search no more
(...)
Don't tell me it's not worth fighting for
I can't help it, there's nothing I want more
You know it's true, everything I do, I do it for you

There's no love, like your love
And no other, could give more love
There's nowhere, unless you're there
All the time, all the way

Everything I Do (I Do It For You) – Bryan Adams


            — Você sabe o que vai acontecer se eu ficar...
O som de sua voz desaparecendo no silêncio.
            — Sei.
            A luz de seus olhos no escuro.
            — Tem certeza? Preciso que tenha certeza.
            Sua respiração tocando meu rosto.
            — Eu quero que você fique.
            Seus lábios. Suas mãos. Em toda parte.
            Minha mente se perdendo sob o comando de meu corpo. Minhas próprias mãos. Tocando-o. Em. Toda. Parte.
            Eu pensei que pararia de pensar. Em vez disso, sinto-me como se tivesse sentidos novos processando cada coisa. E meu coração. Meu coração sente tudo. Meu cérebro se liga a ele e funciona como se o corpo de Eric o comandasse.
            Estamos moldados um ao outro, nos beijando. Cada centímetro de nossos corpos se tocando, uma de minhas pernas entrelaçada às dele e sua mão subindo meu vestido quase até a cintura. Meus dedos resvalando por sua pele quente enquanto tento abrir os botões de sua camisa, afastando-a de seu peito com a mão que o percorre. O coração dele disparado sob minha palma.
            — Eric, eu não... — Tento dizer uma coisa, mas seus lábios roubam minhas palavras, prendendo-as entre seus dentes que me arranham de leve.
            — Você não...? — Ele me provoca, sua língua se alternando com seus lábios na pele do meu pescoço, de meus ombros, suas mãos apertando meus seios.
            Ele se senta por um momento para se livrar dos sapatos, depois se deita novamente sobre mim, seu corpo pressionando o meu em todos os lugares certos. Vejo-o pegar alguma coisa no bolso de trás e colocá-la ao meu lado no travesseiro. Um pacote de camisinhas.
            — É, eu não tinha, que bom.
            Ele se senta sobre minhas pernas e sorri enquanto termina de desabotoar a camisa.
            — Ter passado na farmácia valeu a pena então — diz. — Eu não tinha certeza, aí por via das dúvidas...
            Sento-me na cama para encará-lo.
            — É que eu não...
            Ele está prestes a tirar a camisa, mas para o movimento quando percebe minha expressão séria. A luz da sala nos ilumina de longe. Meus olhos acostumados vislumbram letras tatuadas em seu peito, meio escondidas sob o tecido preto.
            — O que foi? — pergunta, sua mão pousando de leve sobre o lado de meu rosto, as pontas dos dedos acariciando minha orelha, avançando pelos meus cabelos. Então ele acende a luz da luminária ao lado da cama para me olhar melhor, e sua expectativa me deixa um pouco nervosa.
            Não sei como dizer isso a ele. Eu sabia que a hora chegaria, mas não me imaginei dizendo, as palavras sendo escolhidas. Nunca. Contudo preciso dizer, então empurro as frases para fora do meu peito.
            — Isso que estamos fazendo aqui... — Suspiro. — Eu nunca fiz isso com ninguém.
            É. É isso. Eu nunca fiz sexo com ninguém, é claro. Porque nunca tive um namorado. Para mim não é grande coisa, mas não quer dizer que eu não entenda que muda algo.
            — Você nunca...?
            Balanço a cabeça em negativa e sua mão em meu rosto desliza com força em direção aos meus cabelos, os dedos enterrando-se ali num puxão suave que leva minha boca até a sua.
            — Por quê? — ele pergunta. Nossos rostos estão colados de forma que eu não vejo seus olhos, mas há algo diferente em sua voz.
            — Eu não tinha conhecido você ainda — respondo, e ele me abraça tão forte que mal consigo respirar.
            Ficamos assim pelo que me parece um minuto inteiro, seu rosto enterrado na curva de meu pescoço e meu coração ameaçando escalar minha garganta e fugir pela minha boca.
            — Eric? — chamo com o pouco de ar que consigo reunir. Preciso saber o que mudou. Como ele se sente quanto a isso. — O que você está pensando?
            Sinto seu peito se movendo contra o meu, enrijecendo-se, soltando o ar como se fosse um grito mudo. Então ele me olha e uma palavra me vem claramente à cabeça, me tirando o fôlego.
            Predatório.
            Tenho que admitir que gosto disso mais do que achei possível.
            — Bem, baby, isso exige uma ligeira mudança de abordagem — ele diz, segurando a barra do vestido emaranhado à minha cintura e fazendo com que deslize por meu tronco até não estar mais ali. De repente, estou seminua na frente dele e, para minha surpresa, sinto-me bem com isso. — Vou fazer com que você nunca se arrependa de dividir este momento comigo.
            O som dessas palavras tinge minha pele com o calor de meu sangue. Quero dizer que confio nele, que não estou com medo. Porque não estou. Mas a amplitude desse desejo diante de mim é o desconhecido abrasador. E embora eu esteja ávida pelo caminho, não sei qual é o próximo passo.
            — Em que consiste essa mudança de abordagem? — Minha voz sai trêmula, hesitante e desejosa ao mesmo tempo. Eric sorri em resposta. De um jeito que só posso classificar como deliciosamente sacana.
            — Você precisa estar pronta para mim, amor — ele diz, beijando delicadamente meus ombros enquanto abre o fecho de meu sutiã. Depois deixa as mãos correrem por minhas costas, até a base da coluna. Um carinho suave e prolongado que me arrepia. — Então vamos passar um longo tempo nos dedicando a descobrir do que você gosta.
            Quando nos afastamos um pouco, sinto o sutiã escorregando por meus braços. Como já estou quase totalmente vulnerável, eu mesma o retiro e jogo para longe uma das poucas barreiras que ainda separa minha pele da dele. Eric me faz deitar de novo e a sensação de estar nua sobre os lençóis onde durmo me parece deliciosamente nova em sua banalidade quase indecente. Finalmente, ele tira minha calcinha e agora não há mais nada a esconder, nada protegido de sua visão.
Eu deveria me sentir tímida, mas não é o que acontece. Sinto prazer em ser observada assim por ele, inteiramente descoberta. Vulnerável. Como se não houvesse nenhum segredo. Seu olhar me faz sentir como se ele já estivesse me possuindo. Como se todas as partes de mim já tivessem concordado em fazer tudo o que ele quiser.
            — Você é linda, Clara. Linda demais.
            As mãos dele apertam meus seios, massageando-os, e ele segura um de meus mamilos entre os dedos, puxando-o com uma firmeza calculada. A dor é inesperada e boa, o que a torna ainda mais surpreendente, mas mal tenho tempo de senti-la quando a ponta de sua língua acaricia de leve o mesmo lugar, causando um contraste quase entorpecedor.
            — Gosta disso? — ele pergunta sério. Balanço a cabeça confirmando, pronta para mais, quaisquer que sejam seus planos. — Então você vai ter que dizer. Diga-me o que quer que eu faça.
            Eu estava esperando que ele comandasse nossos passos, ao invés disso obriga minha mente a não se perder, me fazendo tomar decisões, como se quisesse me manter concentrada simultaneamente no agora e no depois imediato. Hesito um pouco, confusa sobre o que fazer, mas seus dedos continuam tocando meus mamilos, agora os dois de uma só vez, e sinto-os entumecidos ao extremo, ansiando pelo alívio do carinho de sua boca.
            — Peça — ele ordena, não há outro verbo que melhor defina o que indica o tom de sua voz.
            — Me beije — respondo, como se nestas alturas a decisão fosse realmente minha.
            Suas mãos agarram meus seios outra vez, os dedos emoldurando-os e levantando-os um pouco, então sua língua percorre a aréola de um deles e seus lábios se fecham ali, sugando com uma entrega enlouquecedora de homem sedento.
            Uma de suas mãos desce lentamente sobre minha barriga, parando pouco acima de onde quero ser tocada, as unhas curtas brincando com minha pele enquanto sua boca se ocupa de meu outro seio. Penso que ele vai me fazer pedir outra vez, mas então a mão desliza para a parte de trás, apertando minha bunda por um momento e depois resvalando para o meio de minhas pernas. Arquejo com o choque de temperatura e por todas as outras coisas. Estou queimando quando seu polegar começa a fazer círculos suaves que irradiam desejo por todo meu corpo, até a febre escapar de mim na forma de um gemido.
            Desconheço minha voz, bem como a necessidade de continuar deixando aqueles sons fugirem pelo quarto. Tento dizer alguma coisa, mas as palavras me parecem inúteis, quase obsoletas. O sentimento de perdê-las é obsceno. E eu gosto.
            A energia potente que toma conta de meu corpo começa a ficar incontrolável quando ele beija minha boca, o tórax firme pesando sobre meu peito. Quero desesperadamente sentir sua pele contra meus seios e tento, de uma forma tão desajeita que soa violenta, arrancar sua camisa. Ele ri.
            — Use suas palavras, Clara.
            — Tire isso. Pelo amor de Deus, tire isso.
            Ele me obedece, trocando a mão que se ocupa de mim quando precisa tirar aquela manga. Vejo que desabotoa o jeans também, libertando um pouco do volume que ameaça arrebentá-lo, mas não o tira. Em vez disso, se deita de novo sobre mim, sem nunca parar de me tocar, e sua língua invade minha boca, engolindo meus gemidos. Quando sua pele exposta toca a minha, a sensação me faz explodir em espasmos em que meu corpo todo se contrai. Eric para de me beijar e observa meu rosto.
            — Bom. Já sabemos que você gosta muito disso.
            — Como eu poderia não gostar? — ofego.
            Então, quando acho que acabou, seu dedo desliza para dentro de mim com impressionante facilidade, prolongando a sensação mais um pouco.
            — Você chegou rápido aonde tinha que chegar — ele explica. — E está molhada o bastante para mais. Gosta disso também?
            O dedo dele continua me penetrando, e então começa a se mexer dentro de mim, bem devagar.
            — Gosto.
            O desejo começa a crescer novamente, mas Eric continua a se mexer de forma deliberada e enlouquecedoramente lenta. Movo meu quadril em direção à mão dele, tentando acelerar um pouco, mas uma dor aguda me impede de continuar. Eric parece perceber, então tira o dedo com cuidado e me beija novamente: a boca, o pescoço, os seios, minhas coxas que se abrem para ele...
Quando o dedo me penetra novamente, desta vez com um pouco mais de intensidade, vem acompanhado da língua que percorre minha barriga e meu quadril, minha virilha e a parte interna das minhas coxas. Mexo meu corpo, inquieta novamente, mas sua mão livre me mantém no lugar, seu olhar me provocando.
            — O que foi que eu disse sobre usar suas palavras? É a única forma de sabermos seus limites, minha Luz. Até onde você está disposta a ir agora. Diga-me o que você quer. Eu vou adorar servi-la.
            Me servir? Fazer o que eu quiser, tipo, o tempo todo? Será que é muito errado gostar tanto dessa ideia?
            — Acredite, amor. Estou gostando disso tanto quanto você — ele diz, como se pudesse ler meus pensamentos.
            — Eu quero... — Fico procurando as palavras, tentando me explicar sem ser explícita demais. Não sei por quê. Por fim, me resolvo por isso: — Quero chegar lá de novo. Com você me beijando.
            Ele sorri daquele jeito malicioso de sempre, mas o efeito parece amplificado pelo olhar de quem ouviu o que queria ouvir. Então, enquanto o dedo continua seu trabalho lento e constante, ele deixa a língua me acariciar, primeiro devagar, provando minhas reações, depois com mais intensidade.
            — Olhe para mim — ele manda, indicando a cabeceira e me dando espaço para que eu me acomode ali, meio sentada, apoiada nos travesseiros que empilho às pressas.
Seguro seus cabelos com força quando ele volta a fazer o que estava fazendo antes. O estímulo duplo é poderoso demais e tudo é muito mais rápido do que eu imaginei. Quando a mão livre dele busca meu seio, minhas pernas se fecham um pouco, pressionando seu rosto e amplificando a sensação. Acho que estou gemendo alto, incontrolavelmente, e isso parece atiçá-lo muito. Seus beijos ficam mais vorazes e então seu dedo é substituído pela língua que penetra minha entrada e depois retorna ao centro do meu prazer mais imediato.
Quando o dedo volta e eu começo a mexer meus quadris, a firmeza do movimento já não me incomoda mais e ele acelera um pouco, olhando para mim com o rosto todo vermelho e os olhos ferozes, um gemido profundo arranhando sua garganta como se ele mesmo mal conseguisse se segurar. Então eu me solto por ele, por nós, meus pés se fincando com força no colchão enquanto meu corpo se empina para cima.
Ainda estou de pernas bambas e coração acelerado, sentindo os espasmos em meus músculos muito mais fortes do que da primeira vez, quando ele se levanta e finalmente se livra do jeans e da boxer, apressado como se não pudesse aguentar mais. Acho que ele é a coisa mais bonita que eu já vi e digo isso em voz alta. Ele sorri sem graça — o que o deixa ainda mais lindo — e quando começa a rasgar o pacote de camisinhas para retirar uma, me levanto também, mais pela força da minha vontade de tocá-lo, do que pela firmeza em minhas pernas.
Fico de frente para ele, finalmente olhando de perto a tatuagem que atravessa seu peito um pouco abaixo da clavícula direita. “In pulverem reverteris”.
— Ao pó retornarás. — Lembro-me da citação bíblica em latim[1]. — “Lembra-te, homem, que és pó e em pó te tornarás”.
            — Às vezes é preciso me lembrar — ele diz, segurando minha mão que toca as letras tatuadas em seu corpo e beijando a ponta de meus dedos —  de que um dia tudo vai passar.
            Um lembrete de nossa insignificância diante da eternidade. Uma tábua de salvação em meio à dor. É isso o que ele está me dizendo que aquilo significa.
            Nunca pensei na importância disso, na fugacidade a que estamos condenados trazendo consigo também o fim da dor. Sempre vi o mundo como a continuidade de uma vida na outra através dos gestos de bondade com que tocamos o próximo, através do amor que podemos sentir e carregar para além de nós mesmos, prolongando-nos no tempo.
De algum jeito, quero crer que o que estamos vivendo hoje vai ecoar em nossas vidas, que nosso amor vai crescer com isso, e que quando formos embora deste mundo, um pouco da beleza do que sentimos vai ficar para trás. Aproximo-me dele e deixo meus dedos percorrerem os contornos de seus músculos, sentindo-os se retesarem e se arrepiarem ao meu toque.
            — Mas enquanto estivermos aqui — digo, beijando seu peito —, posso amar você infinitamente.
            Eric põe os braços ao meu redor, tombando a cabeça para trás quando meus lábios alcançam seu pescoço, perdendo-se, como eu, no amor que nos circunda. Deixo minhas mãos percorrerem todas as partes de seu corpo, testando a rigidez e o calor. Quando toco a parte mais sensível ele estremece, e seus olhos febris se voltam para mim outra vez, tomados pelo desejo. Fecho meus dedos sentindo-lhe a textura, movendo minha mão da forma que parece agradá-lo tanto.
            — Não faça isso — ele geme, mas eu quero continuar. Gosto do efeito que causa. — Ou faça — desiste, por fim.
            Por alguns segundos, ele se deixa envolver, segurando a respiração com os olhos fechados, como se tentasse aproveitar a sensação e controlá-la ao mesmo tempo. Depois, enquanto assisto ao seu rosto passar de uma expressão extática para um tormento decidido, sinto sua mão segurar a minha com força, impedindo-me de continuar.
            Ele me levanta no ar com uma facilidade desesperada, e minhas pernas envolvem sua cintura enquanto o atrito entre nós me enlouquece. Quero-o dentro de mim agora. Não posso estar mais preparada do que isso.
            — Deixa eu pôr isso pra você — digo quando ele me deita na cama e se ajoelha entre minhas pernas, pegando um preservativo do pacote rasgado.
            Tomo a embalagem de sua mão antes que ele possa dizer qualquer coisa em resposta, mas estou trêmula, o desejo me consumindo e atrapalhando meus movimentos. Eric guia minhas mãos e me olha com uma ternura enlouquecida que torna tudo ainda mais erótico.
Sem dizer nada, ele se deita sobre mim e me penetra de novo com os dedos, sendo mais vigoroso agora, tentando me preparar para o que há de vir. Fico à mercê de um prazer doloroso que ameaça me esmagar novamente enquanto ele me beija, mas então sinto algo mais me penetrando, só um pouco. Solto um gemido de dor e êxtase misturados e ele para onde está, tremendo ainda mais do que eu, os braços sustentando parte do seu peso para que eu possa me movimentar livremente sob seu corpo.
— Desculpe, amor — ele sussurra, beijando meu rosto e meus lábios carinhosamente. — Você está bem?
— Estou — confirmo, cravando um pouco as unhas em suas costas enquanto a dor vai embora. — Estou.
— Eu prometo que vai melhorar logo. Segure-se em mim — ele me instrui. — Até se sentir confortável, é você quem vai comandar. Você que vai dizer até onde posso ir. Entendeu? Use suas palavras. E seu corpo também.
O carinho dele me inflama a prosseguir. Desço as mãos por suas costas, tirando um momento para apreciar o quanto sua bunda é macia e firme. Eric permanece parado enquanto o acaricio e seu rosto concentrado me dá uma ideia do quanto deve estar lhe custando continuar assim. Então tomo coragem e respiro fundo, puxando o quadril dele em direção ao meu mais um pouco e sentindo a dor bem-vinda de algo se rompendo. Uma lágrima escorre pelo meu rosto e ele a apanha em sua boca.
— Desculpe, amor. Me desculpe.
— Não — sorrio para ele. — Não é nada de mais. Você está tornando tudo perfeito.
Ele também me sorri em resposta e eu me mexo devagar sob seus quadris, me acostumando à sensação de tê-lo dentro de mim. Meus dedos apertam sua bunda e ele afunda mais um pouco ao meu comando, soltando um gemido arrastado quando nossos corpos por fim se completam.
Seus olhos me pedem permissão e eu cedo, então ele começa a se mover lentamente. A dor vai embora de vez e, gradualmente, o incômodo que restou se transforma em outra coisa. O atrito agora é bom e o rosto de Eric se transtorna de prazer quando ele percebe que estou gostando. Fecho meus olhos, tentando controlar as sensações que me arrastam, mas a voz entrecortada de desejo dele penetra a névoa de meus sentidos misturados:
— Olhe para mim, Luz. Faça isso olhando em meus olhos. Por favor.
A voz dele, seu cheiro bom impregnado em mim e a maciez de sua pele que começa a ficar molhada de suor transam comigo também. E quando abro os olhos como ele me pediu, sou brindada com seu lindo rosto iluminado. Não como o prisma de antes, mas apenas uma face luminosa, repleta de amor e devoção por mim. Olho dentro de seus olhos e abro mão de qualquer controle, aceitando me perder ali. Paro de querer adivinhar o que virá, quando virá. Apenas sinto-o me penetrar cada vez mais rápido, cada vez com um pouco mais de força, nossos ventres se tocando freneticamente até seu olhar parecer descontrolado também.
Um grito sufocado me escapa e a emoção não cabe mais em mim. Lágrimas quentes começam a escorrer por meu rosto enquanto me deixo ir numa nova onda de prazer avassalador. Eric beija meus seios de novo, com força, descontrolando-se realmente pela primeira vez, e sei que ele não pode mais esperar.
— Faça isso olhando para mim — imito seu pedido, segurando seus cabelos e puxando-os um pouco.
Ele me obedece e luta para fixar meus olhos, os sentimentos todos estampados em seu olhar, ele todo mais vulnerável do que eu jamais o vi. Um som rouco rasga seu peito e foge por sua garganta. Seguro seu rosto quente e sugo seus lábios enquanto ele se despeja em mim, sem nunca fechar os olhos em que continuo mergulhada. Em que continuarei sempre.
Quando tudo termina, ele desaba em meu peito, o peso de seu corpo me servindo de agradável prisão, mas minhas mãos não param de acariciá-lo. Minha boca não consegue evitar de beijar cada ponto de sua pele que alcanço enquanto ele controla a própria respiração. Depois ele me beija também. Calmo. Enlevado. E se enrola em meu corpo como se agora eu fosse sua tábua de salvação, não mais a ideia do fim. Aconchego-me em seu abraço e deixo novas lágrimas rolarem. Lágrimas de felicidade que caem sobre as palavras que enfeitam sua pele.
Não dizemos mais nem uma palavra até o sono nos alcançar. Não precisamos.



           





[1] Gen. 3, 19.

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